Lembro-me de um dia, há bem pouco tempo atrás, quando sofri um acidente de carro... Bem mais do que os ruídos de metal e vidros sendo destruídos, lembro-me de ver a primeira pessoa que veio me socorrer, correndo em minha direção. Lembro-me que era uma desconhecida, e de que em uma fração de segundo eu me senti feliz em saber que eu não estaria sozinho, entregue à minha própria sorte; logo estariam muitas, mas aquela primeira pessoa agora me faz pensar... O que leva o ser humano a ajudar um desconhecido, a sair correndo de encontro a alguém que está sofrendo, como que querendo impedir a todo custo esse sofrimento anônimo? Há uma cumplicidade na dor, que nos impele a confortar a dor de nosso semelhante... Uma coisa chamada compaixão.
Nesses últimos dias da negligência global, a raça humana se desperta para a realidade que antes parecia distante e até mesmo improvável: a destruição do planeta, e dos valores humanos. Recentemente, um grupo de jovens da Austrália deram início a uma campanha chamada “Abraços grátis”... Noticiários descrevem desastres aéreos, marítimos, terrestres e espaciais em proporção anormal... Qualquer espécie de vida extraterrestre com inteligência estaria nos vendo de cima como baratas tontas e burras, num circo ridículo de gula e autodestruição... Pra eles, seríamos com toda a certeza classificados como irracionais.
A máquina capitalista transformou-se num vagalhão fora de controle, o cabo do freio está solto em nossas mãos e estamos todos assistindo a isso como se estivéssemos de fora, porque vemos a tudo pela TV. Somos agora telespectadores do Realit Show do Apocalipse, e não existe responsável, somos apenas público... Torcida... Torça para que Deus venha e concerte tudo o que nós estragamos... Acompanhe a TV todos os dias, pra ver se aparece alguém pra fazer algo e você assistir aliviado.
Lendo uma reportagem sobre a prostituição infantil no Nordeste, lembro-me da revolta do repórter, que finalizava dizendo que era insuportável a ”normalidade” humana, essa inércia e preguiça diante desse Caos sutil e contínuo que faz com que velhos depravados de relógios caros, adúlteros ébrios espancadores de mulheres e engravatados barrigudos de cabelos grisalhos e valise de dólares continuem bebendo seus chopes tranqüilamente no bar da esquina...
Será que o ser humano conhece bem esse sentimento a que chamamos compaixão? Por que será que ele só se manifesta em alguns, numa porção mínima de bem-intencionados que cursam medicina, engenharia florestal, ou são ativistas engajados de alguma ONG que tomam banho duas vezes por dia, gostam de café e fazem o sinal da cruz quando passam em frente da igreja? Será que a TV te mostrou a morte do Iraque? Você viu as crianças morrendo, com suas mães gritando? Quanto tempo você acha que nós temos?
Olhe pra dentro de você mesmo, e descubra se você tem compaixão pela raça humana e pelo planeta... Você é capaz de amar incondicionalmente a um estranho? Você já ajudou a um desconhecido sem esperar por nada em troca? Já foi ajudado por um? Já se perguntou sobre o propósito de estar vivo? Será que cada um de nós não nasceu pra fazer a sua parte? Você faz a sua? Quantas árvores você plantou? Você é um ser útil para o mundo, para a sociedade, ou você é só mais um consumidor parasita e irresponsável como a grande maioria? Pense na quantidade de lixo que você produz todos os dias, e imagine quantas coisas você teria de fazer para compensar proporcionalmente a sua sujeira de uma vida toda...
Pense.
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2 comentários:
demais, Sides!!
brigado, Carol, estimulante saber q as pessoas estão lendo (e gostando)... aliás, saudades de vc,moça, espero q esteja tdbem... besosss
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