Desde o seu nascimento o Rock fora associado ao demônio e ao satanismo. Inventado por Bill Halley, esse ritmo surgiu de uma simples fusão entre o blues negro e o country branco. Elvis Presley (que muito gostava da black-music gospel e aderiu prontamente ao novo estilo musical) era um jovem rapaz com uma voz e um rosto muito bonitos que óbvia e sabiamente usou de seu sex-appeal para atrair as garotas, e justamente pela exagerada histeria coletiva que ele provocava no público feminino (que realmente beirava a insanidade, e até mesmo o cômico) sua música fora chamada de sexualmente pervertida e “diabólica”. Desde essa época ficou subentendido para todos de que o rock seria uma arma sutil dos jovens contra seus pais. Através dele a juventude exteriorizaria seu desejo sexual despudoradamente (com uma liberação catártica e - a meu ver - saudável) e atacaria ferozmente o status quo da sociedade afirmando cínica e naturalmente qualquer coisa que lhe desse vontade. Ou seja, o rock tratou-se pura e simplesmente de um ritmo musical vigoroso e juvenil que os jovens usariam para expressar suas diferenças de valores perante sua sociedade majoritária com uma agressividade puramente idealizada, não se manifestando explicitamente em violência física; essa nova música tratava-se apenas de um pseudovandalismo puramente sonoro, que como não causava danos físicos (em princípio) e não fora considerado ilícito, fora “vestido” mui prazerosamente por qualquer pessoa (predominantemente jovem) que não temesse diferenciar-se dessa “maioria”.
Por essa característica tão forte de provocação e despudor o rock fora estigmatizado como satânico pela sociedade conservadora, e quando isso aconteceu seus artistas e seguidores – por sua irreverência e cinismo inatos – não só ignoraram ao rótulo preconceituoso como até mesmo alguns deles chegaram a – por pura e simples provocação lúdica – concordar com ela. O “diabo” era um símbolo forte, agressivo e assustador: perfeito para ser utilizado como mais um ataque á sociedade.
Não é preciso muita sabedoria para ver que o rock nunca teve qualquer vínculo com a religião. Principalmente quando de seu nascimento. O satanismo propriamente dito fora usado posteriormente nesse ritmo musical apenas por bandas da vertente conhecida como “black-metal” (chamado “black” como alegoria á magia-negra) como um ataque direto aos valores cristãos, e não á Deus. Ou seja, até mesmo quando a religião fora posta em questão, fora apenas abordada em sua essência puramente comportamental e/ou política. Outrossim, não há como atacar algo que não se considere existente.
Mas o Rock vinculou-se própria e indelevelmente com o “príncipe das trevas” apenas quando três bandas apareceram: Beatles, Led Zeppelin e – principalmente – Black Sabbath. Abordaremos separadamente a cada uma delas, á partir de agora.
Á partir da metade do século vinte tornou-se mania em toda a Europa o interesse crescente da minoria intelectualizada pelo esoterismo. Romanticamente chamado de Ocultismo, essa expressão abrangeria uma vasta gama de assuntos relacionados com o fato de serem imateriais, subjetivos, e relacionadas com o espírito humano em sua interação com o que conhecemos como matéria - ou universo - e as força (ou forças) que a criou e sustenta. A Inglaterra pareceu ser um dos principais focos desse repentino interesse e – aparentemente – onde mais demonstrou particular curiosidade pela chamada Magia Cerimonial (com suas ordens místicas como a Theosophy de Helena Petrovna Blavatski, ou a Golden Dawn de McGregor Mathers), onde os limites entre o que seria o “religare” sagrado iniciático e redentor, e a arte vulgar e primitiva chamada pura e simplesmente de Magia Negra ficaram tão emaranhados que parece ser difícil até mesmo para seus estudiosos (pelo qual eu mesmo - não sem assumida pretensão - me incluía) estabelecerem onde termina o sagrado e onde começa o profano. Mas, aparentemente, o “Grande Arcano” dessas “ordens” (incluindo-se a própria Maçonaria) parece ser exatamente a conciliação despudorada do homem com esses dois extremos.
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Os Beatles foram inicialmente apenas um conjunto musical com claras intenções comerciais, e seus integrantes nada mais eram do que jovens buscando a fama, a fortuna e a admiração do sexo oposto (como pelo menos noventa por cento dos outros conjuntos musicais). Depois que alcançaram a todos esses objetivos, sua credibilidade artística e seus recursos monetários os viabilizaram a poder experimentar em suas obras qualquer tipo de excentricidade que lhes acorressem. Talvez o divisor de águas e o destruidor da ingenuidade desses “rapazes de Liverpool” tivesse sido Bob Dylan, que interpretara mal uma frase de uma letra de Paul McCartney, imaginando ser uma alusão ao uso de entorpecentes: convidou-os, então, para fumarem marijuana em seu apartamento, sem imaginar que eles nem ao menos haviam visto qualquer tipo de droga ilícita até então. Viram, gostaram e – anos depois – George Harrison vai á Índia, conhece outras drogas e – depois de passar por variadas experiências místicas – retorna para o Novo Mundo. Nessa nova época – princípio da década de setenta – os alucinógenos já haviam dominado grande parte da juventude americana e inglesa com o surgimento da geração libertária “flower power” e seus garotos de cabelos longos pacíficos, promíscuos e usuários compulsivos de qualquer espécie de tóxico psicoativo. Como evidência da incursão dos Beatles pelo “oculto” vemos a foto de Aleister Crowley na capa de “Sargeant Pepper`s...”: Aleister tratava-se da ovelha negra (o trocadilho é casual) da Golden Dawn, expulso após excessos (em todos os sentidos) perpetrados com evidentes sintomas de psicose e esquizofrenia. Claro que o uso da imagem de Aleister (que se auto-intitulava megalomaniacamente de “A Besta do Apocalipse”) seria parte de uma jogada de antimarketing que passaria a ser muito comum (e extremamente eficaz) no meio do rock. Que o digam os garotos do Black Sabbath.
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Após assistir a um “filme B” (filme de terror – geralmente de baixo orçamento – propositadamente rudimentar e burlesco), alguns rapazes resolveram que fariam uma banda com o nome desse próprio filme, e utilizando-se de elementos cênicos que remontassem ás “forças das trevas”, tema que mais apropriadamente se encaixaria com o fundo musical que fosse o mais sujo e agressivo que eles pudessem conceber. Ou seja, o “demônio” e toda a sua “parafernália” seriam elementos perfeitos para ilustrarem experimentações musicais provocativas e – pretensiosamente - assustadoras. Utilizadas estritamente como tema e linguagem cênica da mesma forma como um diretor as utilizaria para um filme de horror convencional. Estava criada a banda “Black Sabbath”, e seu vocalista John passou a utilizar uma abreviação de o nome que os antigos gregos deram ao imperador egípcio Ramsés II, há milênios atrás: Ozymandias. O estilo de “horror-rock” lúdico chocou aos ingênuos (que absurdamente puderam conceber que forças supostamente extremas como “Deus” e o “diabo” poderiam dar algum tipo de relevância a um bando de garotos rebeldes e irreverentes), agradou aos jovens bagunceiros, e trouxe ao mercado fonográfico do rock pilhas e pilhas de dólares. Como já dito, o rock sempre demonstrou que um de seus principais atrativos para seus profissionais seria - irônica e paradoxalmente - o tal “antimarketing”: quanto pior o caráter de um artista, quanto mais escândalos perpetrasse, quanto mais disparates proferisse e quanto mais drogas utilizasse, tanto mais discos venderia... E muito mais fãs, inevitavelmente, recrutaria.
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De todas as bandas acima citadas relacionadas com o satanismo, apenas uma delas talvez tenha tido realmente alguma coisa relacionada ideologicamente com ele: o Led Zeppelin. Claro que não podemos nos esquecer de que o uso dessa simbologia “macabra” poderia também se tratar (a princípio) da velha estratégia de vendas própria do estilo, mas de qualquer forma ela pode ter indo longe demais. No princípio, com seus tradicionais bacanais pantagruélicos pós-show (com práticas sexuais acompanhadas de “acessórios” diversos, como bastões de salame e animais, segundo alguns boatos da época), e culminando com a aquisição de Jimmy Page do castelo-abadia de Thelema (que era de propriedade do nosso já conhecido Crowley), o Led Zeppelin passou a mostrar sinais cada vez maiores de suas ligações com o “reino das trevas” quando tragédias familiares violentas e continuadas começaram a suceder-se entre seus integrantes. Mortes seguidas de parentes próximos (culminando com a de John Bonham, baterista da banda) fizeram até a imprensa inglesa suspeitar de que algo terrível poderia estar por trás de tudo isso. Mas a verdade (se o Led Zeppelin, ou qualquer outro desses conjuntos de rock já citados teriam qualquer filosofia satânica em sua obra) até mesmo hoje em dia ainda é uma incógnita. E, por sinal, uma “incógnita” bastante lucrativa.
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No Brasil nós tivemos, também, nosso representante desse clube dos rock`n rollers do inferno na figura de Raul dos Santos Seixas. Despojado, irreverente, provocador e anarquista, Raul afirmou-se uma pessoa extremamente cética com relação á religião, até conhecer a um editor de uma antiga revista de ufologia (“2001” era o nome da publicação) chamado Paulo Coelho. Os dois estavam no mesmo parque onde supostamente fora avistado um Ovni, trocaram contatos e, desde então, tornaram-se parceiros em composições. Através da (má) influência de Paulo Coelho, Raul começou a interessar-se pelo satanismo e sua magia-negra (somente o próprio Paulo Coelho pode nos dizer até que ponto, se alguém puder convencê-lo a entrar em detalhes mais pormenorizados do que os dados em seu livro “As Valquírias”). De qualquer forma, os poucos detalhes dados por Paulo Coelho no supracitado livro já é o bastante para sabermos que algo realmente fora feito. E - também de acordo com o próprio livro - seja lá o que fora feito, fez com que todos os integrantes de seu grupo de “satanistas” ficassem apavorados como crianças indefesas, acovardados e arrependidos de haverem conseguido – finalmente - seja lá o que for que eles tentaram. Bom, e mais uma vez, “seja lá o que tenha sido isso”, e seja lá o quanto isso tenha amedrontado aos “pseudobruxos satanistas” (inclusive, pelo que afirmou Paulo Coelho, o próprio “maluco beleza”), de qualquer forma toda essa “novela diabólica” terminou sendo abundantemente lucrativa, também, para o senhor Paulo Coelho. O único que não está rindo com tudo isso, provavelmente, é o próprio Raul Seixas. Ou será que está?
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"FAÇA SUAS ORAÇÕES DUAS VEZES POR DIA... PONHA SUA CONSCIÊNCIA PRA LAVAR NA LAVANDERIA."
terça-feira, 15 de novembro de 2011
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