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sexta-feira, 4 de novembro de 2011

O APOCALIPSE DA ARTE

O Apocalipse da Arte

O homem moderno, no final de seu galgar pelo aprendizado acadêmico do conhecimento específico que escolheu para si, recebe um dos principais “símbolos” de sua interação com - e conseqüente aceitação pelo - status quo: o Diploma. É ele que possibilitará ao estudante sua transição formal ao que o levará a ser um “profissional”. Não se contesta um diploma, evidência palpável que é. Constitui-se prova incontestável da “competência” de seu portador. Que dizer então de pós-graduações, das teses de mestrado, de doutorado, “p.h.d.s” e afins?
- Está vendo aquele cavalheiro ? - sussurra a senhora burguesa à sua filha - aquele a apertar o nó de sua gravata? Diz-se ser ele Doutor Honoris Causa em Oxford!... É a ele que deverias chamar para a contradança...”
Da mesma forma como reles pertences materiais (como gigantescos imóveis, carros de luxo, fraques, smokings e demais bugigangas) pressupõem um “cidadão respeitável”, anos de estudo em uma universidade de renome pressupõem um profissional notável. Ora, ninguém poderá negar que ter como mestres personalidades de credibilidade acadêmica inevitavelmente será promissor, e é óbvio que o convívio com uma elite burguesa educada nos mais finos parâmetros da etiqueta seja inevitavelmente positivo, mas de qual época e nação estamos falando? Da Inglaterra Vitoriana? Não. Quero falar sobre o Brasil, mais especificamente sobre música, e a época é exatamente esta.
Leve um garoto brasileiro para Bahrein, na Índia, deixe-o lá por dez anos para aprender os segredos da Cítara oriental, e veja se depois de voltar ao Brasil ele poderá lecionar sobre o instrumento em alguma faculdade... Será mais fácil vê-lo em qualquer outro emprego, se ele não dispuser de diploma. Pode parecer adequado - teoricamente falando - uma especialização formal, metódica e comprovada, mas não precisamos ir muito longe para se comprovar uma verdade absurda, irônica e revoltante dessa metodologia: Os mais especializados em termos “acadêmicos” nem sempre o são na realidade prática.
Terminamos com uma realidade bizarra: Professores de idiomas que não falam o idioma que “ensinam”, e “Músicos” e “professores de Música” que não são músicos.
Sobre a problemática do não ser, poder-se-ia estendermo-nos muito mais além, direto à questão da música como arte e quem realmente poderia considerar-se como autêntico representante da mesma. Onde necessariamente começa a ARTE? Como se comprova a sua autenticidade? Aprende-se “arte” em alguma faculdade, ou aprendem-se apenas elementos, blocos ocos, peças aleatórias e insípidas de sua constituição?
Notas, cores e frases não são “artísticas” por si mesmas... É aí que entra o homem, que se metamorfoseará em artista apenas se lograr em dar vida a esses elementos estéreis. É muito fácil jogar tinta óleo a esmo em uma tela, de forma caótica, e chamar a isso de “arte abstrata”. É muito fácil escrever sandices totalmente desprovidas de coerência e conteúdo, de forma totalmente mecânica e sem a menor reflexão, e chamar a isso de “poesia cubista”. Um cidadão sobe em algum palco e fala, grita, despe-se de forma caótica, e chamamos a ele de “ator Artaudiano”. Montam-se uns poucos acordes em uma melodia, coloca-se uma pobre e óbvia letra sentimentalóide narrando um “amor que se foi”, e temos uma “canção romântica”.
Um estudante de arte não se torna um artista por ter manchas de tinta óleo em suas mãos, por cheirar a aguarrás, e nem por estar executando um oboé em algum recital em Paris. Conheço poucos artistas... Conheço muitos impostores, cuja principal pessoa a que eles enganaram com suas obras insípidas foram eles mesmos. Chama-se de artista a cínicos propagadores de “obras” explicitamente caça-níqueis, cantores medíocres que compram canções de ilustres anônimos e abarrotam os meios de veiculação com os mesmos clichês, meros clones de “fórmulas” eficazes em alcance de massa.
Vivemos em um mundo esteta, um mundo de deslumbres e ilusões. Fica-se deslumbrado com a formação acadêmica e não se percebe o charlatão. Deslumbra-se com o cenário e com os figurinos, e não se percebe que a peça é uma mera cópia de clichês desgastados. Deslumbra-se com um nome famoso, montado a subornos e a minimalismos acessíveis á massa. Deslumbra-se com um lindo violino, executado por um papagaio bem alinhado, cujo extraviamento de suas partituras o tornaria um melhor cozinheiro.
O que está sendo feito de nossa Arte? De quem será a responsabilidade pela banalização de seu conteúdo? Do artista, ou de seu público? Oscar Wilde já dizia que “a obra de arte deve dominar o público, e não o público dominar a arte”. Dizia também que "um homem que não tem pensamentos individuais,
é um homem que não pensou".
A meu ver a modernidade - com sua liberalização total dos valores e a banalização gradual de tabus – chegou a tal ponto em que tornou a verdadeira obra de arte apenas mais um bem de consumo como qualquer outro, mas desafortunadamente consumido apenas por uma minoria que - apesar de privilegiada intelecto e culturalmente em comparação ás demais - não tem voz ativa nenhuma quando mede forças com essa sociedade majoritária ignorante, materialista e fútil. As grandes empresas de entretenimento e informação (principalmente rádio e televisão) criaram um autêntico exército de consumidores de bobagens. Um exército de alienados que se sentem muito bem, obrigado, em o serem.
Estamos vivendo um autêntico “Apocalipse da Arte”. Os quatro cavaleiros já apareceram, e já estão em vias de exterminá-la. Mas não se trata de “peste”, “guerra”, “fome” etc... São a “Indústria Pop Milionária”, a “Fórmula de Vendagem”, o “Artista Fajuto e Mercenário”, e o pior de todos os cavaleiros, “O Público Que Não Quer Pensar”. Deus nos ajude.

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