Brasil. Qualquer um que já deixou o país e se aventurou a visitar um de nossos “vizinhos” latino americano percebe vários fatos curiosos: Primeiro, é que os países hispânicos (como Argentina, Uruguay e Paraguay) têm certo ressentimento com o Brasil por ele ser o único país da América do Sul que não utiliza o idioma espanhol. Eles chegam a pensar que o povo brasileiro não fala o espanhol por questões ultranacionalistas... Para se manter diferenciado dos demais. Eles quase sempre não acreditam quando o brasileiro diz que não entende e/ou não fala o idioma: Eles acham que o brasileiro não quer falar. É totalmente compreensível: Subentendem isso por que qualquer criança latina entende o português, pois em todos os países vizinhos veicula-se de forma estrondosa a música e as novelas brasileiras. Mas no Brasil não se veicula artistas vizinhos. Como quase todos eles nos compreendem (óbvio, levando-se em conta a extrema semelhança dos dois idiomas), fica-se com a impressão de que o Brasil é uma nação fechada, principalmente em termos culturais. Agora chegamos á essência: em termos culturais, o Brasil realmente é uma “arca-de-Noé”.
Quantos artistas latinos ficaram em evidência por aqui? Quantos artistas Argentinos (cantores, atores, etc...) você – brasileiro - conhece? Quantos artistas Uruguayos? E do Paraguay? Saem-se músicas e artistas brasileiros para toda a América de forma profusa, mas não se entra quase nada além de artistas pop Mexicanos, como Shakira, Ricky Martin e demais amenidades. Pasma-se com o fato de que não se veiculam músicas em espanhol nas rádios ou na televisão brasileira. E o principal: menos ainda de artistas vizinhos. Posso dizer que, sendo brasileiro (mas antes de tudo, latino-americano) acho realmente desprezível, absurdo, dolorosamente revoltante o fato de que o dito “sistema” (principalmente a mídia televisiva e o rádio) mantém o povo brasileiro nessa quarentena proposital totalmente castrante e desumanamente involutiva. Não é difícil suspeitar de que exista algum tipo de manipulação norte-americana nesse autêntico BOICOTE cultural. Pense bem: absorve-se a cultura Yankee no Brasil de forma profusa e até invasiva, com comidas colesteróicas cancerígenas, superproduções hollywoodianas repetitivas e descartáveis, e cantores pop “Superstars” bilionários com suas musiquetas eletrônicas feitas em computadores “Mac” em escala industrial. Mas olhe só que interessante: Nem o inglês o brasileiro aprende a falar, acostumado que está com a enxurrada massacrante de dublagens de filmes e novelas e versões brasileiras de músicas estrangeiras. Na escola voltamos á questão supracitada: O inglês é bizarramente “ensinado” por cidadãos que nunca saíram do país, que não têm familiaridade nenhuma com o idioma, e que se tornam tão leigos quanto seus alunos quando privados de seus livros didáticos. É um absurdo.
O Brasil não conhece o seu povo vizinho, não conhece seus próprios companheiros de continente. O Brasil faz parte, como todos os demais, dessa maravilhosa família latina, e não sabe disso. O Brasil não entende o idioma de seus próprios irmãos. O Brasil é um país cativo, prisioneiro de seus dominadores, que o alimentam, mas o mantêm cego e surdo pra garantirem seu monopólio. Sacrificam de forma desumanamente monstruosa o desenvolvimento latino-cultural, em nome de dólares. Precisamos acabar com isso. O brasileiro precisa saber ir atrás, descobrir de quê ele vem sendo suprimido, o quê escondem dele, e agarrar, descobrir, aprender, conhecer por si próprio. O brasileiro precisa aprender a conhecer o espanhol, se familiarizar finalmente com ele, e absorver a maravilhosa música e literatura de nossos vizinhos: Desde Gabriel Garcia Marques, César Vallejo, Jorge Luis Borges, Júlio Cortazar, Juan José Areeola, Augusto Roa Bastos, Ernesto Sábato, José Hernandez e Maria Concepción Chaves, a Jorge Drexler, Charlie Garcia, Silvio Rodrigues, Nitsuga Mangoré, Gustavo Cerati e Fito Paez. Tenho certeza de que nossos vizinhos nos acolherão de braços abertos, sentirão prazer em nos mostrar finalmente seus tesouros, suas culturas tão diferenciadas e únicas, seus maravilhosos artistas e suas tão preciosas obras.
E então, somente então, o povo brasileiro finalmente poderá juntar-se aos seus companheiros, e definitivamente autodenominar-se (e com estupendo orgulho) Latino Americano.
O Brasil precisa conhecer a América. O Brasil precisa conhecer a sua própria casa. O Brasil deve desculpa a seus irmãos: Ele estava dormindo.
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