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sexta-feira, 4 de novembro de 2011

SOBRE MONOGRAFIAS E TESES

Sobre Monografias e Teses

Há alguns anos atrás (uns cinco ou seis, aproximadamente) eu estava com sérias intenções de escrever dois livros sobre dois assuntos diferentes, ambos na forma de monografia. Essas monografias seriam escritas exatamente da forma como são exigidas normalmente para um estudante de faculdade, detalhe por detalhe. E então escolhi um dos dois temas e comecei. Naturalmente, iniciei minhas pesquisas pela internet.
Conforme o tempo foi passando (e minhas pesquisas foram crescendo em quantidades de informações - e conseqüentemente, volume) comecei a me desesperar pelo fato inevitável de que as minhas pesquisas haviam se tornado um monstro em forma de quilos de papéis e centenas e centenas de milhares de parágrafos de incontáveis livros. Parece que quanto mais eu quisesse “esgotar” o tema, mais ele se ramificava em mais dezenas de sub-aspectos, que por sua vez se ramificavam novamente de maneira – aparentemente – infinita.
Isso me fez parar subitamente, em uma noite de “estudos”, e lembrar-me de um fato do passado que eu quase havia me esquecido: uma das piores brigas que eu tive com uma ex-namorada fora porque ela (que já sabia muito bem da minha exagerada compulsão pelas letras) queria que eu viesse a ler a sua tese de mestrado, cuja apenas a complexidade dogmática de seu título já me antevia que eu passaria horas e horas de especulações intermináveis e enfadonhas sobre coisa alguma. Li algumas páginas, achei tudo muito complexo – desnecessariamente – e pedante, desisti, e inevitavelmente passamos mais uma de nossas intermináveis noites de “discussão de relacionamento”.
Não sei se foi essa experiência em particular o que me causou posteriormente a minha ojeriza por retóricas, só sei que ela me impede de seguir com os meus planos de redigir essas minhas tais “monografias”. E - arrisco-me a dizê-lo – hoje em dia eu ainda acho que esse “esgotar do tema” proposto pela “monografia” acaba sendo justamente o que acaba tornando-o ineficaz como objeto de pesquisa. A meu ver, uma pesquisa bem-sucedida caracteriza-se por um estudo simples, coerente e esclarecedor sobre o assunto que for, e nenhuma pesquisa ramificada em centenas de aspectos e milhares de páginas com terminologias rebuscadas será “esclarecedora”. Ao contrário, tornará tudo ainda mais subjetivo, ou até mesmo relativo. Eu realmente duvido que os professores de faculdade cheguem a ler todas as monografias de seus alunos. Ainda mais se pararmos para pensar que pelo menos metade delas serão de qualidade duvidosa. Isso se não formos falar a respeito dos “temas” propostos pelos “estudantes”. Falo isso porque já convivi com centenas de estudantes, e já passei por muitas centenas de amargas horas escutando um recém-formando ébrio explicando-me – de forma extremamente pobre em termos argumentativos e vocabuláricos – sobre determinada monografia - ou tese - sobre assuntos tão diversos, como determinado desenho animado e “suas mensagens filosóficas implícitas”, ou qualquer outra inutilidade no mesmo estilo. Quem leria um pacote de centenas de páginas impressas discorrendo pormenorizada – e infinitamente - sobre um desenho animado em particular, e cujo autor trata-se de um jovem de seus vinte-e-poucos anos que lera (no máximo) seus trinta ou quarenta livros? Ou seja, acho que desisti de escrever as minhas monografias.
Muitas pesquisas são feitas de forma intrincada e complexa apenas para satisfazer a necessidade de auto-afirmação intelectual – muitas vezes inconsciente - do autor. O uso excessivo de jargões complexos é típico do meio jurídico e/ou financeiro (com seus “mercados futuros” como o exemplo perfeito) com a evidente intenção de limitar seu acesso á uma minoria: trata-se de um “nazismo” verbal enrustido. Mas nos casos das monografias, o uso de centenas de argumentos análogos (que apenas se repetem por outros ângulos, e com outras palavras) e descrições pormenorizadas em demasia sobre tópicos dispensáveis, visam apenas tornar o estudo “esteticamente” eficiente e abrangente. Se a teoria da Relatividade Einsteniana for explicada em três páginas, ela é indigna de substância e fé.
Ironicamente, o próprio Einstein disse uma vez em uma de suas entrevistas que a eficácia de suas descobertas (principalmente aquelas que dizem respeito á relatividade do espaço-tempo) devia-se – supostamente – á simplificação de seu raciocínio, que o levava a ver, aceitar ou entender as premissas mais básicas do universo diretamente por suas origens. Como Einstein não era capaz de entender (ou aceitar) como comuns todas as leis fundamentais da constituição da matéria em sua totalidade, teve de fazer um esforço considerável para repensá-las, e tentar explicá-las resumidamente – e de forma coerente - para si mesmo. E, então, o que poderia ser proposto e/ou explicado em milhares de páginas, Einstein resumiu em uma simples fórmula: E = m . c²
Simples, assim.



monografia. [ De mon(o)- + -graf(o)- + -ia.] S. f. Dissertação ou estudo minucioso que se propõe esgotar determinado tema relativamente restrito.

tese. [ Do gr. thésis, ‘ato de pôr’, ‘proposição’, pelo lat. these ] S. f. Proposição formulada para ser defendida em público.

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