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terça-feira, 2 de setembro de 2014

A VERDADE SOBRE O FIM DO MUNDO



O fim da ciência é destruir o mundo.”
Friedrich Nietzsche



     Durante todos os períodos da história da humanidade, o momento presente, imediato, sempre fora visto (e provavelmente sempre será) como o auge da decadência humana e o prenúncio de um suposto próximo Armagedom. Qualquer pesquisa superficial por arquivos de história mostrará a civilização sempre à espera de um iminente apocalipse. Como um cachorro que gira em círculos, tentando morder a própria cauda. Um ouroborus - ou möbius - barato. As pessoas sempre dizem que a sociedade está cada vez mais violenta, que os valores familiares estão ficando para trás... É típico de pessoas idosas dizerem que “nos velhos tempos, tudo era melhor”. Será mesmo? Eu, sinceramente, penso que não.



     Há alguns milhares de anos atrás - quando a bebida alcoólica fora criada e começou a ser largamente utilizada pelos povos antigos, como os egípcios e romanos - toda refeição era acompanhada por vinho, cerveja, anisete ou hidromel. Beber água era sintoma de um lar miserável. Durante esse período da história não era nem um pouco incomum o ser atendido por um padeiro ou alfaiate bêbedo, e a história mostra muitos episódios de atrocidades (como latrocínio e estupro) cometidos por soldados – romanos, egípcios, persas - embriagados, e durante o exercício de sua função. Em aquelas tenebrosas épocas, quase toda a sociedade comum perambulava pelas ruas – e inclusive trabalhava – embriagada. O leitor mais imaginativo tente conceber como seria essa sociedade ébria em termos de interação social. Imagine o nível da violência, em uma sociedade primitiva onde a impunidade era muito mais comum, e onde até mesmo suas autoridades estavam intoxicadas pela bebida e cometendo delitos, impunemente. Lembro-me agora de que na obra “Nossa Senhora de Paris”, de Victor Hugo, ele mesmo nos explica que em pleno século quinze ainda era comum deparar-se nas ruas com estranhos alcoolizados, armados com punhais ou adagas em suas cinturas. Naquela longínqua época dos combates e conquistas de territórios, todo pai de família deveria ter pelo menos uma espada bem afiada escondida em algum lugar de seu lar. Á qualquer momento uma turba de vagabundos homicidas poderia se juntar para saquear alguma vila ou caravana. Todo cuidado era pouco.



     Não é á toa que os historiadores chamam a Idade Média de “Idade das Trevas”, por exemplo. Depois que se ficou sabendo o que os árabes estavam fazendo com os cristãos europeus que faziam a peregrinação até a cidade de Jerusalém, um andarilho chamado de “Pedro, o eremita” começou a perambular por todas as pequenas aldeias da Europa narrando para qualquer transeunte que encontrasse - em detalhes grotescos - as humilhações sofridas pelos cristãos nas mãos dos “sanguinários turcos”, incitando o povo a pegar em armas, e partir para a retaliação. O papa Urbano II aprovou, e começou a “Guerra Santa”. “Que os salteadores se tornem cavaleiros!”, gritou o papa, ao que todos responderam: “Deus vult! Deus vult!...” Pedro juntou 50.000 pessoas das mais baixas categorias sociais e foi para Jerusalém, na primeira de todas as cruzadas, chamada “Cruzada dos Mendigos”. Não sobrou quase ninguém, apenas Pedro e mais uns poucos sobreviventes. Naquele insano período da história humana, a cruzada cristã mais absurda fora a chamada “Cruzada dos Meninos”: Acreditando que Jerusalém somente seria recuperada pelos “inocentes”, milhares de crianças foram colocadas em montarias com espadas tão pesadas quanto elas próprias e mandadas para o confronto com os turcos, com a bênção de Deus. Sinceramente, agradeço aos historiadores por não entrarem em detalhes sobre o que fora feito com essas crianças pelos bárbaros. E, só para concluir esta menção ás cruzadas, é importante notarmos que o final dela fora com o papa utilizando os seus próprios cavaleiros templários para alimentar as fogueiras da Santa Inquisição. A gordura humana deve ser uma ótima substância inflamável.



     Na América do Sul, no final da Guerra da Tríplice Aliança, quando o Paraguai já havia sido massacrado em uma guerra covarde pelo Brasil, Argentina e Uruguai, uma de suas cenas finais (“Nhu-Guaçu”, 16 de agosto de 1868) fora a dos soldados brasileiros “vencedores” degolando adolescentes e crianças armadas, depois que toda a população masculina do Paraguai já havia sido dizimada. Não é difícil imaginar as crianças paraguaias chorando, agarradas nas pernas dos soldados, implorando por suas vidas. Duque de Caxias hoje é tido como um “herói”. Herói de uma guerra infanticida, onde seus soldados jogavam propositadamente cadáveres contaminados com cólera-morbo nos rios. Depois de essa “guerra” empreendida por três países contra apenas um, o que restou do Paraguai fora um país saqueado e miserável habitado por velhos e mulheres. E enquanto isso, na Inglaterra, glutões de peruca brindavam a isso com taças de gim.



     Nossa sociedade “moderna” é uma sociedade de bêbedos. Dopadas pelo álcool e pela televisão, sempre estão à espera de um apocalipse que na verdade já está acontecendo a milhares de anos. Desde que a humanidade surgiu.





apocalipse. [Do gr. apokalypsis, ‘revelação’, pelo lat. tardio apocalypse.] P. ext. Fig. 1. Grande cataclismo; flagelo terrível.




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