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quarta-feira, 7 de março de 2012

SPIELBERG E A INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL


     Poucos filmes me surpreenderam tanto quanto o Inteligência Artificial (A.I.), nesses últimos anos de Holiwood digital. Tanto que quando vi que na verdade tratava-se de um projeto de Steven Spielberg sobre um trabalho interminado de Stanley Kubrick não me surpreendi tanto. Foi mais como uma sensação de “ah, então é por isso!..”. Que “Inteligência Artificial” faça parte daqueles projetos classificados como “ambiciosos” não resta a menor dúvida, nem para seus realizadores, muito menos para o público mais atento. Até mesmo personagens terciários que foram feitos com desenhos computadorizados foram dublados por celebridades: O programa de computador de busca de informações interativo “Dr. Know” possui a voz de ninguém menos que Roger Willians, e a “Blue Fairy” que David (o personagem principal) procura durante os dois séculos de sua existência é dublada por ninguém menos que Meryl Streep. Durante o encarceramento de David na “Flesh Fair” onde ele seria usado pelos humanos para um festival sádico de destruição de ciborgs, todo o festival é realizado sob a trilha sonora ao vivo do grupo de Industrial Rock “Ministry” (precursor do gênero, e principal representante).

    Mas a estrela principal, em minha opinião, não é nenhum dos atores consagrados (como Jude Law ou Willian Hurt) que atuaram (e maravilhosamente bem, diga-se de passagem) ou os já citados que emprestaram suas vozes. A diversão principal do filme fica por conta de “Teddy”, o urso de pelúcia robô que acompanha David durante toda a sua jornada em busca de se tornar um garoto de verdade. Quando Teddy é entregado para David por sua “mãe”, ele é retirado de uma empoeirada caixa que ela retira do fundo de seu guarda-roupa, ou seja, na verdade Teddy é um brinquedo velho e esquecido que pertencia ao verdadeiro filho de Monica quando ele ainda não estava em coma. Teddy é um robô obsoleto e oxidado, suas articulações são extremamente barulhentas (principalmente para quem assistir ao filme com Dolby Surround em um bom Home Theathre), e seu tom de voz (lento, calmo e bastante grave) somado ao seu “gênio” extremamente sisudo e prático (sem o menor senso de humor, devido á defasada inteligência artificial de seu sistema central) o torna um personagem extremamente carismático e engraçado. Spielberg sempre teve bom-gosto para as cenas de humor de seus filmes (desde Indiana Jones á De Volta Para o Futuro, outro de meus filmes prediletos) e Inteligência Artificial teve a sua dose com Teddy. Desde a cena inicial em que ele, bravo, informa á David e sua mãe de que ele “não é um brinquedo”, até quando David e seu “irmão” disputam para ver a quem Teddy irá responder quando chamado pelos dois ao mesmo tempo, Teddy arrancou risos entusiasmados da platéia na seção de cinema em que eu participei.

    E, poeticamente, Teddy acaba ilustrando e definindo toda a moral do filme, que é até onde as máquinas podem chegar em termos de humanidade com uma inteligência artificial. Ironicamente o personagem Teddy, que é um “animatronic” de metal e plástico (e não uma animação feita por desenho de computação gráfica, como muitos pensaram), tornou-se uma das maiores atrações do espetáculo.



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