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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

“EMO”? QUE É ISSO?


Uma vez, quando me perguntaram como saber se alguém é bonito ou feio, eu sem ao menos titubear - e com a cara mais limpa do mundo - respondi de improviso (é dessa forma que saem as minhas melhores “pérolas”): “é só você se imaginar estando em um rótulo de algum shampoo ou de uma pasta de dentes. Você compraria esse shampoo? Não? Então você é feio”. Na verdade tratava-se apenas de mais uma das minhas brincadeiras de mau-gosto, porque se fôssemos analisar dessa forma como eu coloquei, mais de setenta e cinco por cento das pessoas – incluindo eu, é óbvio - seriam “feias”, e não é bem assim.

O critério da escolha de modelos para ilustrar os tais rótulos de shampoo e pasta de dentes não se restringe apenas á beleza física. Antes de qualquer coisa, tem de ser uma beleza “padrão”. Marilyn Monroe e Superman.

Belezas exóticas, mais complexas, frutos de miscigenações, de misturas interessantes de duas belezas étnicas compatíveis (onde o Brasil – longe de eu estar sendo apenas patriota - é um dos maiores fabricantes) não são eficientes ou adequadas para esse universo dos produtos de perfumaria. Chamam a atenção demais para o modelo, ofuscando inevitavelmente o produto em si. Justamente por esse motivo as modelos dos desfiles de moda são quase heterogenicamente loiras cocainômanas e anoréxicas de quarenta quilos e desprovidas de seios ou nádegas: sua função é a de “cabide”, não podendo desviar a atenção de as roupas para os seus quadris. As pessoas têm de ver a roupa, e não a modelo.

O mais estranho de tudo isso é que se pegarmos revistas velhas de moda, veremos de forma gritante como o “ideal estético” não só é imposto pelo showbizz (leia-se “moda”, “fashion”) como ele está sempre em eterna transformação, e de forma ás vezes tão caótica e contraditória, que o que era cool na estação passada tornar-se-á burlesco, risível, na próxima. O melhor exemplo disso é o final do milênio passado (que eu tive a felicidade – ou tristeza – de presenciar pelo menos o final)... Principalmente com as décadas de setenta e oitenta.

Nas décadas de setenta a humanidade começou a deparar-se com cortes de cabelos e roupas que – antes e depois dela – seriam usados somente por loucos ou humoristas. Principalmente a moda masculina. Se bem que, analisando melhor agora, eu estou quase pensando em sugerir que na verdade foi só a moda masculina, mesmo, que caiu no ridículo. A moda feminina passou pelo grotesco somente com aqueles cabelos encaracolados compridíssimos (ressecados e com volume, e que talvez fossem fruto do excesso de uso de produtos químicos e secadores elétricos), e por aqueles biquínis - na época batizados de “asa delta” – que lotavam as praias. Mas a moda masculina extrapolou.

A primeira coisa que me veio á cabeça, com o perdão do trocadilho, foram os penteados. Começou com as impagáveis “costeletas” – típicas de bebuns – e que geralmente vinham invariavelmente acompanhadas de camisas justas desabotoadas no peito, acompanhadas de colares de ouro e tufos eriçados de pêlos. Depois, passaram a ser acompanhadas pelos horríveis mullets (cachos de cabelos da nuca que - quando começam a crescer - são excessivamente rebeldes), que foram “evoluindo” gradativamente até chegarem ao seu ápice de ridiculês e tornarem-se os típicos penteados de cantores “sertanejos”, que desde essa época começaram a se propagar pelo país. (Detalhe: foi justamente no final dessa época que eu fui concebido, e assusta-me pensar sob qual trilha sonora). Que dizer, então, das calças? Lembro-me de uma vez em que o baterista de uma banda em comum me pediu emprestado uma calça jeans, mas ele era pelo menos uns quinze centímetros mais alto que eu; As calças ficaram tão justas que eu não conseguia parar de rir, dizendo que ele parecia o vocalista do Led Zeppelin. Mas faltou o golpe de misericórdia: a calça não era alargada embaixo, formando a intragável “boca de sino”.

Que dizer, então, da década de oitenta? Se na década de setenta os jovens fizeram tudo o que puderam para chocar aos pais e á sociedade, obviamente sobrariam poucas opções para os jovens dos anos oitenta. Mas, infelizmente, eles souberam ser criativos. E, com toda a certeza, as poucas opções de chamar a atenção que sobraram para eles eram quase todas tão ridículas quanto as piores anteriores... e além. É por isso que eu sempre digo (ops!) que “quando pensamos que algo está muito ruim, só vemos que estávamos sendo egoístas e ingratos quando tudo fica muito pior: então vemos que a situação anterior até que não estava mal.”

Na década de oitenta sobraram poucas opções do ridículo, mas quase todas elas seriam baseadas na fusão dos sexos (chamada erroneamente – até hoje – de “androgenia”): mulheres – com sua emancipação de cunhos morais – usariam acessórios masculinos (pelo menos da parte delas isso tinha uma intenção, um propósito, e foi feita por elas com muito mais bom-senso e critério estético), e os homens também – desgraçada e risivelmente – usariam apetrechos femininos. Camisetinhas “baby-look”, brincos, e – pasmem – cosméticos. Sim. Os “homens” na década de oitenta – principalmente artistas como cantores Pop e de bandas de “rock” new-wave, começaram a usar maquiagens como base, lápis e até baton. Sad, but true.

Mas sabe o que é o mais estranho disso tudo? É que eu pensava - até bem pouco tempo atrás - que depois dessas duas décadas seria muito difícil a moda cair novamente no campo do estranho, do espalhafatoso, justamente por já ter cometido todos os erros possíveis e imagináveis. Enganara-me. Com a primeira década do século vinte-e-um, chegam os “novos-mutantes”: A SUPER-GERAÇÃO EMO. Preparem-se, porque eles não parecem estar brincando. E esconda suas crianças. Antes que elas também comecem a usar penteados de personagens de mangá (detalhe: quase nenhum “emo” lê mangá, ou qualquer outra coisa) e comecem a escutar bandas pop de ideologia duvidosa.

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