“O Tao é imutável.
Sem nome.
E, embora
originariamente ele seja ínfimo,
Tornará
indestrutível aquele que o encontre”
Tao te Ching
A história da Terra – e da raça humana -
sempre apresentou repentes súbitos de gênios que alavancaram a evolução humana.
Em determinados períodos da história - em lugares extremamente longínquos entre
si - apareceram simultaneamente homens extremamente evoluídos que mudaram para
sempre toda a humanidade. No século VI a.C. tivemos o mais extraordinário
surgimento de avatares de a história d`este nosso planeta: A Grécia nos trouxe Pitágoras e Heráclito, a Pérsia apresentou-nos Zoroastro (ou Zaratushtra),
a China abrigou Lao Tse e Confúcio, e a Índia surpreendeu ao
mundo com a pessoa de Sidharta Gauthama.
Nesse período inicial da história da civilização fora criado na Índia o Budismo.
Esse mesmo budismo originado na Índia
espalhou-se rapidamente por toda a Ásia em diferentes escolas de pensamento,
onde se destacaram principalmente duas: A Hinayana
(ortodoxa) na Tailândia, Burma e Sri Lanka; e a Mahayana, estabelecida em o Nepal, Tibete, Japão e China. Como a
intenção destas páginas é a de falar apenas sobre a arte marcial da China e de
sua filosofia implícita, concentraremo-nos apenas em os aspectos do budismo
Mahayana (chamado por seus adeptos de “grande veículo”), com a sua filosofia
chinesa Hua-yen.
Da mesma forma como apenas duas colunas
sustentam toda a filosofia budista, também duas colunas sustentam toda a
filosofia “kung fu” do Wushu; Prajna e Karuna (respectivamente “intuição” e
“compaixão”) sustentam a filosofia Mahayana, e o Wushu é sustentado pelo Confucionismo com o seu pragmatismo
“kung fu” (ou seja, a busca da perfeição através da disciplina) somado ao Taoísmo de Lao-Tse, com a sua
meditativa contemplação e conseqüente absorção/assimilação do “Caminho
Perfeito” da natureza e de seus seres vivos.
Lao
Tse
Lao Tse (da mesma forma como Kwan Kung,
Bodhidharma e Confucio) tratou-se de um lendário sábio tão popular em toda a
China antiga que a sua verdadeira história terminou por se perder em um
vastíssimo oceano de lendas apócrifas a ele atribuídas. De acordo com as
principais d`elas, Lao Tse era um homem velho e careca com longuíssimas barbas
brancas que perambulava pela China sem destino fixo montado em um plácido e
manso touro, seu único companheiro, e também o único “bem material” que ele
possuía além de suas próprias roupas. Lao Tse finalmente se cansou do
materialismo e ambição de seus semelhantes e decidiu deserdar acompanhado
apenas de sua montaria para os confins da Ásia Central. Chegando em a fronteira
da China, Lao Tse foi abordado por um guarda da fronteira chamado Yin Hsi (ao que tudo indica um homem
bondoso e inteligente), que muito se interessou pela filosofia do humilde
velho, mas dispondo-se a apenas permiti-lo passar com seu touro pelos portões e
partir do país depois que ele lhe estivesse escrito um tratado completo sobre
seus pensamentos e sua filosofia. Lao, então, pernoitou pela última vez na
China e fez a vontade de Yin Hsi, escrevendo-lhe o tratado de 5.000 palavras
conhecido como “O Clássico sobre o
Caminho Perfeito”, ou “Tao Te Ching”.
Aparte as lendas e romantizações, tal livro de fato existe (inclusive foi
bastante usado por mim em grande parte das citações d`esta minha obra que está
agora em tuas mãos, caro leitor!) e é considerado juntamente com o Cânone
Taoísta Daozang como o autêntico
cerne do budismo Chan, também
chamado de Zen Budismo. O alicerce
filosófico de toda a China é o próprio Tao Te Ching!
Confúcio,
ou K`ung Fu Tzu
Pelo que meus escassos
conhecimentos e exaustivas pesquisas me fizeram suspeitar, a expressão chinesa
“gong fu” parece derivar etimologicamente de o nome chinês “K`ung fu Tzu”, o
antigo sábio taoista conhecido pelos Ocidentais como “Confúcio”. Em a edição
brasileira do Lun Yü ("Os
Analectos", L&PM, pag.233) vemos que "fu Tzu" é traduzido
como "Cavalheiro", ou "mestre".
Confúcio nasceu em o reino de Lu no ano 551
a.C., e foi um grande sábio venerado por seus discípulos, que o seguiam com
inexorável fidelidade. O conceito central de toda a sua filosofia era o Chün Tzu, ou a “busca pelo aperfeiçoamento moral, e pela prática constante da
benevolência”.
Para Confúcio, a busca infinita pela
virtude não deveria jamais ser feita pelo homem que buscasse d`ela qualquer
tipo de recompensa ou vitória: a recompensa pelo aperfeiçoamento moral e pela
prática constante da benevolência não virá em vida...
E
talvez nem mesmo depois da morte.
A virtude deve ser
perseguida pelo homem digno apenas por seu próprio valor intrínseco, e com a
completa indiferença quanto ao sucesso ou fracasso, ou mesmo o mero
reconhecimento de seus esforços e/ou suas obras.
A
única recompensa a buscar é o próprio aperfeiçoamento.
“Quanto
a colocar o caminho do Chün Tzu em prática, o homem benevolente deve saber o
tempo todo que isso é uma causa perdida”
LunYü
O
que é o TAO
“Não viveu em vão aquele que descobriu a
verdade sobre o Tao antes de morrer”
A tradução literal para Tao (ou Dao) é "caminho", mas esse
caminho a que a filosofia chinesa se refere não é um caminho físico, e também
não seria, necessariamente, um suposto "caminho espiritual
transcedental" a que alguém poderia trilhar. Na verdade, esse caminho a
que ele se refere seria O caminho
percorrido pelo próprio universo, que em sua síntese máxima seria dividido
por duas forças opostas e, ao mesmo tempo, complementares.
Ou seja, de acordo com a síntese de essa
filosofia o Tao seria o caminho cósmico absoluto e imutável percorrido pelo Te. "Te" é a sua contraparte
que representa a virtude universal,
uma espécie de "justiça-cósmica" que trilha o próprio Tao como se ele
fosse uma estrada. A tradução mais próxima para Te seria "Virtude", aquela coisa indefinível
e amorfa, uma espécie de "poder do amor" que mantém a todas as coisas
existentes coesas, ou seja, estáveis e em harmonia.
Claro que com "harmonia" apenas
nos referimos a seu estado-de-ser, visto que a desarmonia também é uma parte
essencial do Tao como toda e qualquer outra. Aliás, é justamente essa a
característica fundamental do pensamento
filosófico oriental, e justamente essa característica é a que mais difere
do pensamento Ocidental: O Ying e o Yang
são opostos... Mas um é tão importante quanto o outro para o equilíbrio de o
universo.
Para um Taoista, o ouro seria uma pedra
amarela insignificante se fosse facilmente encontrada pelo chão em qualquer
lugar, e justamente por isso é que as pedras comuns são tão importantes.
Somente a existência do "feio" faz o "belo" adquirir algum valor.
Se tudo no universo fosse belo e grandioso, nada no universo seria belo e
grandioso.
A bondade, a compaixão, a redenção e o
perdão talvez não seriam qualidades tão valorosas e tão nobres se não fosse
pela predominância de suas contrapartes em o cotidiano da vida.
Em várias obras e estudos
que pesquisei sobre o Tao,e até mesmo em o próprio Tao Te Ching de Lao tse, vi
que ele é mui freqëntemente mal traduzido e, consequente e negativamente,
mal-interpretado.
Usando-se a própria filosofia chinesa para
expressar o que é o Tao, tomemos um homem hipotético em seu caminhar para seu
lar: onde está o Tao em essa cena? Em o homem? Não. Em seu lar? Não. Em suas
pegadas? Não. O Tao é o trajeto, o Tao é todo o caminho percorrido. Fluxo
contínuo. Mudança contínua.
Vemos o Tao em o instinto dos animais, que
nascem e, segundos após, levantam-se sobre suas patas e começam a
caminhar.
Vemos o Tao na água que flui da nascente
do alto de uma montanha para baixo. Ela desce vagarosamente e acaba, por fim e
sem nenhum esforço, arredondando ás mais duras, pontiagudas e gigantescas
pedras.
Sem dúvida alguma a melhor forma para entendermos
ao conceito Tao-Te-Ying-Yang é com a
observação da natureza e de tudo o mais que forma o universo.
Qualquer animal predador, por mais
perigoso que seja, também tem seus momentos de ternura com suas crias.
Em algum lugar da
África ferozes panteras negras amamentam suas crias com carinho.
Em um lugar qualquer do
Vietnã cobras mortais fazem ninhos onde depositam seus ovos e aguardam
pacientemente a sua eclosão.
Em algum extremo da
Antárdida um gigantesco e assustador urso pular pesca peixes com suas mãos para
sua família.
O
verdadeiro equilíbrio do Tao somente ocorre quando finalmente aprendemos o
"não lutar-lutando", ou
seja, a não chocar-se contra algo oposto usando-se de uma força oposta, e nem de uma força idêntica e, sim, absorvendo-a e anulando-a.
Até
mesmo transmutando-a.
KIN LAI!
“Trinta raios convergentes unem-se no cubo,
formando uma roda,
Mas
é o seu vazio central que permite a utilização do carro.
Recortai
no espaço vazio das paredes as portas e janelas
A
fim de que um quarto possa ser criado.
Desta
forma o ser produz o útil...
Mas
é o não-ser que o torna eficaz”
Tao
Te Ching
Este texto é um trecho
do livro de Herácides Gimenez (Saides Lamarca) intitulado "A Dança do Tigre
Branco"
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