Durante os últimos trinta anos vimos o
surgimento de toda uma nova geração de lutas marciais impulsionadas pelo MMA, que são os modernos Torneios de Lutas Marciais Mistas
derivados do antigo "Vale-tudo"
da década de noventa. Até meados de os anos oitenta todas as diferentes
técnicas de os mais variados países sempre se mantiveram em um aparente
equilíbrio com relação ao número de praticantes e escolas, e qualquer discussão
a respeito de qual delas seria a mais eficaz seria um tema sem conclusão.
Entretanto, após a modernização - e até
mesmo reformulação - de as técnicas do Jiu-jitsu
no Brasil após a chegada de o célebre mestre Conde Coma ficou-se bastante notória a sua maior eficácia como luta
quando confrontada com qualquer outra técnica. O Jiu-jitsu, apesar de não focar
em golpes de contusão como murros ou chutes talvez seja, de fato, a técnica de
luta mais funcional de todas, e justamente por esse seu aspecto estratégico de se
focar em a completa imobilização do adversário. Grosso modo, não é injusto
dizermos que o Jiu-jitsu torna-se, por fim, mais especificamente uma espécie de
"anti-luta", pois que a sua tática - apesar de bastante ofensiva -
destina-se tenazmente a impossibilitar o oponente de atacar.
Justamente por essa abordagem marcial
estratégica que se originou seu nome, cuja tradução livre poderia ser algo como
"luta suave", o que
enfatiza o seu aspecto estritamente calculista em contraposição a qualquer
outra forma de luta que venha abranger golpes contusivos, como o Muay-Thai, por exemplo.
Outrossim, na verdade as técnicas do
Jiu-jitsu pouco possuem de "suave", visto que grande parte de seus
ataques - em golpes como os famosos "cervicais" e as chaves "Ezequiel" e "Kimura" - focam em
estrangulamentos, deslocamentos de membros e até mesmo em fraturas que podem
causar severos traumas como até mesmo paraplegias. E também é importante
frisarmos que essa incontestável superioridade do Jiu-jitsu quando confrontada
com qualquer outra forma de luta em um ringue é apenas uma realidade com
respeito a uma hipotética luta entre apenas duas pessoas, e justamente por esse
seu enfoque característico em uma luta corporal à curta distância.
Essa
superioridade do Jiu-jitsu facilmente se esvairá em qualquer combate contra
mais de um oponente.
Mas,
e quanto ao Wushu? Porque não vemos a verdadeiros lutadores de Kung Fu em esses
famosos torneios de lutas mistas?
Primeiramente, porque grande parte de o
antigo e verdadeiro Wushu Tradicional praticado na China focava em um eminente
combate de vida ou morte. Em as formas baseadas em os animais que possuem
garras, por exemplo, um longo, severo e doloroso treinamento era realizado
pelos monges lutadores ao extremo de adquirirem força física em suas mãos para
até mesmo serem capazes de esmagar e arrancar aos órgãos internos de seus
adversários com suas próprias mãos. Óbvio que jamais seria admissível a
aplicação de tais técnicas em uma competição esportiva moderna.
O primeiro Chin Na que aprendi com meu mestre de Garra de Águia, por exemplo, tratava-se de uma técnica para
defender-se de um gancho com um cruel deslocamento de cotovelo, tido por algumas
fontes como a fratura mais dolorosa que um ser humano pode sentir. Em outro
Chin Na - que finalizava com um estrangulamento com uma mão só usando-se os
dedos em garra - nosso Sifu nos explicou que para a correta aplicação de tal
técnica deveria-se buscar encostar as extremidades do dedão e do indicador
dentro da própria traquéia de seu oponente. Citemos ao Tang Lang (Louva-deus) como outro exemplo: golpes fulminantes com
as extremidades dos dedos em órgãos sensíveis, como os olhos e a jugular.
Também vi a uma demonstração de um amigo que praticava ao Loong Quan (forma do dragão)
de um golpe que visava teoricamente entrar com os dedos em garra pelos lábios
do adversário para causar um horrível rasgo na pele de seu rosto, ou seja, tais
técnicas visavam obviamente a um combate que somente terminaria com a morte, e
causando-se danos estruturais grotescos visando-se, talvez, intimidar com tais
demonstrações de crueldade e sangue frio aos inimigos sobreviventes que os testemunhassem.
Em suma, não fica difícil compreendermos
porque o Wushu tornara-se apenas uma filosofia de vida para seus praticantes de
hoje em dia. Nenhuma escola de "kung fu" atual ensina a matar.
Deve-se compreender que na época em que a arte-marcial chinesa se desenvolveu
fora um cruel período de muitas guerras, e não apenas entre países, mas entre
tribos, vilarejos e até mesmo famílias. Em essa estranha e mórbida época das
"conquistas de territórios" era muito comum um pai de família manter
em sua casa em algum lugar a uma espada muito bem afiada, para o caso de alguma
turba de vagabundos invadi-la para roubar-lhe seus bens e sua mulher.
A verdadeira tradição da arte marcial
chinesa Wushu deve focar apenas em o ideograma conhecido como "GONG",
ou seja, o "kung fu" chinês jamais deve focar em relez "campeonatos
esportivos", ou em "ganhar" ou "perder".
O Wushu jamais deve ser usado em
competições que visam o lucro. Nenhum verdadeiro praticante de Wushu treina
para fazer "exames de faixa", ou para colecionar "medalhas de
ouro".
O verdadeiro praticante treinará todos os
dias, e por toda a sua vida...
Mas
todo esse treinamento terá como fim apenas o próprio treinamento.
O praticante de
Wushu que se vangloriar de sua faixa preta e de suas medalhas, ou que entrar em
uma competição por dinheiro, nunca será, de fato, um Sifu.
Será apenas um
lutador.
Este texto faz parte do livro de Herácides Gimenez (Saides Lamarca) chamado "A Dança do Tigre Branco"
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Um comentário:
Eu acho que o Kung Fu deveria se adaptar aos dias de hj,ele está parado no tempo, eles tentam manter a tradição,mas nem sempre isso é bom
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