Análise feita por um
frio reptiliano (Saides Lamarca) sobre os estranhos sentimentos de os humanos
lágrima. [Do lat. lacrima] S.
f. 1. Secreção aquosa, levemente alcalina, da glândula
lacrimal, que serve para umidificar a conjuntiva. “Chorar lágrimas de
sangue”. Verter sentido pranto.
Existem algumas expressões idiomáticas que são intraduzíveis para outras
línguas. Em o inglês, por exemplo, temos a expressão “broken-hearted”, cuja
tradução mais próxima para o português seria algo como “com o coração ferido”,
sendo o “ferido” em seu sentido simbólico, significando que a pessoa foi
emocionalmente “destruída” por algo. E quando o ser humano está
“broken-hearted”, ele chora.
Quando o ser humano
chora, lágrimas escorrem de seus olhos em um primeiro estágio, e culmina com o
que chamamos de “pranto”, ou (simbolicamente) “soluços”, que é quando não
apenas saem lágrimas em profusão de seus olhos, mas o ser humano também emite
um triste, lamentoso gemido, e subitamente vêem os tais “soluços” em os casos
extremos.
Os
cães e os gatos são os animais que mais se identificaram com o ser humano.
Foram os únicos animais que optaram deliberadamente em conviver com os humanos
em a horrível sujeira de a selva de pedra conhecida como “cidade”.
Coincidentemente, são os dois animais que também possuem algo similar ao
“choro” humano.
O
“choro” de os cães se caracteriza por um silvo similar ao “falsette” humano, ou
seja, um gemido bastante fino, agudo. O choro de os gatos são seus característicos
“miados”, mas (ao contrário de os cães) são miados bem mais graves do que o
comum, é como se a sua pequenina corda vocal ficasse mais grossa. Vemos esse
tipo de “miado lamentoso” principalmente em os filhotes que foram abandonados,
que foram perdidos de sua mãe, ou que estão em inanição, ou seja, quando estão
sem comer a muito tempo, e então estão sofrendo outra sensação mui
característica (e, talvez, a mais cruel de todas) de os seres vivos, conhecida
como “fome”.
Cães
e gatos choram por apenas quatro coisas: por sentir dor, fome, frio, ou por se
sentirem abandonados. Com o ser humano as coisas são muito mais complexas.
Quando o ser humano está adulto seu choro já se encontra bastante delimitado,
sendo muito mais raros os choros de dor, de fome ou de frio. Quando o ser
humano está adulto, ele geralmente chora por sentimentos mais complexos,
d`entre eles um dos quais muitas pessoas acreditam que os animais não sentem,
que é o “amor”. Diferentemente de os outros animais, o ser humano não chora
apenas quando está sofrendo. O ser humano, ás vezes, chora de felicidade.
Os
humanos choram quando encontram uma pessoa amada que eles não vêem há muito
tempo. Choram quando conseguem uma vitória mui custosa, quando todos pensavam
(até ele mesmo) de que iria perder. Choram quando testemunham algo com o que se
identificam, comungam, e esses são choros de “compaixão”, um dos mais nobres de
todos, como quando choram no fatídico beijo de um “casamento” (união perpétua
de um casal mutuamente apaixonado), ou quando testemunham o nascimento de um
“bebê” (filhote humano). E choram quando suas “almas” chegam mais perto de o
que eles chamam de “Deus”.
Os
humanos “chegam mais perto de Deus” quando começam a “entender”. São em
momentos de transcendência, momentos muito raros e momentâneos de uma percepção
espiritual mui elevada. Esses momentos são desencadeados por sinais divinos,
que podem vir de a própria natureza, ou até mesmo de outro ser humano, como em
algum poema, ou em alguma bela canção.
São em momentos mágicos
e/ou poéticos. São em momentos de verdadeira sabedoria. Momentos em que o ser
humano percebe (entende) que todo o Universo é regido por uma força única que
por sua vez parece ser regida (e eu bem acredito que o seja) pela “compaixão” e
pelo “amor”. Então sentem-se confortados e seguros, como um bebê carinhosamente
aninhado em o ventre de sua mãe. Sentem que tudo está sob controle, até mesmo
em meio ao caos da auto-destruição de a humanidade, porque talvez (talvez,
apenas talvez) não seja em este plano físico que ele (o ser humano) encontrará
sua explicação final de tudo.
Talvez essa estranha
“lágrima de amor” seja uma das provas d`esse Deus que eles tanto veneram.
“(...) Estar
perto d`ela, era acaso possível? Ouvi-la respirar; respirava, pois! Então os
astros respiram! Gilliatt estremecia. Era o mais miserável, e o mais inebriado
e feliz de os homens (...) Tocou-lhe os cabelos com uma
espécie de precaução religiosa; fitou os olhos n`ela durante alguns instantes,
depositou-lhe em a fronte um de esses beijos debaixo de os quais parece que
deveria abrir uma estrêla e, com uma voz que tremia em a suprema angústia e
onde se sentia a dilaceração d`a alma, disse-lhe esta palavra, a palavra das
profundezas: ‘Adeus.’”
Victor Hugo, “Les
Travailleurs de la mer”
*
2 comentários:
adorei mais no momento isso foi talvez um resumo do que eu estou sentindo .. de certa forma
obrigada por compartilhar comigo mais uma vez suas historias parabéns foi muito boom ler essa
Sentimentos profundos... Adoraria conhece-lo pessoalmente e ouvir de pertinho esses textos lindos que vc escreve.
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