Escrito por Herácides
Gimenez
Fui
batizado como católico no dia de meu nascimento, e passei a minha infância
estudando em um colégio particular em São Paulo, onde até algumas faxineiras e
cozinheiras eram freiras. Uma de minhas lembranças mais fortes de essa época
era a sensação etérea, sublime, de respeito e humildade tão forte no ar que me
fazia bem, quando íamos com algumas delas rezar na capela da escola. Era um
silêncio estranho. Um silêncio vivo e mágico. Eu só não gostava de olhar para
uma estátua - em um tamanho proporcional á estatura média de um ser humano
adulto - de Jesus, deitado, todo coberto de sangue e ferimentos, como se
tivesse sido há pouco retirado de sua cruz. Sentia medo.
Quando me tornei um adolescente, já fazia
muitos anos que eu não estudava mais em aquele colégio católico, e como meus
pais nunca foram “praticantes”, eu nunca mais fui á igreja. Aliás, não me
lembro de ter ido assistir a alguma missa com os meus pais. Eu até arriscaria o
palpite de que nenhum deles foi alguma vez por vontade própria assistir a
alguma missa católica.
Eu e minha irmã, também, acabamos por
perder o estímulo religioso que havíamos adquirido com os ensinamentos daquelas
bondosas mulheres. Acho que se tivéssemos continuado a estudar com as freiras
até chegarmos à nossa adolescência, com certeza nosso caráter teria sido muito
mais moldado sob os princípios morais cristãos. O afastamento de as freiras (e,
conseqüentemente, da igreja), acabou por desfocar totalmente a minha atenção e
fé em Jesus.
E então, conseqüentemente, li dezenas de
ensaios de ateus (e até mesmo de “católicos não-praticantes”) que falavam tão
ferozmente com relação ao “império financeiro do Vaticano” e sobre as
atrocidades cometidas pelo “Santo Ofício” contra os judeus e as mulheres, que
por fim não só fiquei totalmente cético com relação ao cristianismo, mas quase
(por muito pouco) não me tornei um anti-cristianismo. Nietzsche, com toda a sua
fúria desmesurada contra a igreja, foi um deles.
E digo mais: acho que eu só não me tornei
ateu, pela educação religiosa que recebi em minha infância, e que com certeza
está junto com os principais alicerces de minha índole e de meus valores, ou
seja, fui educado na infância para ser um cristão, e meu caráter foi moldado
indelevelmente sob tais princípios. Fazem parte da minha personalidade, de meu
intelecto, tais valores. Ou seja, por mais que eu encontrava tantos argumentos
céticos e difamadores do cristianismo, bem lá no fundo de minh`alma eu mantive
uma centelha (que durante muito tempo pra mim era aparentemente inexistente) de
a fé cristã.
Sobre os argumentos difamadores que me
afastaram da igreja, tratam-se de duas coisas, principalmente: Primeiro, o erro
da contagem do ano cristão estabelecido por um anão russo chamado Dionísio
Exíguo (ou “Denys”, de acordo com outras fontes...). Dionísio, em meados de
530, errou o nascimento do Cristo Jesus por cinco anos (esqueceu-se dos quatro
anos em que Augusto reinou com o nome de Otávio, e do ano zero entre 1 a.C e
1d.C.) e ninguém consertou até hoje; e
segundo – e principalmente - a não-autenticidade do Novo Testamento.
Através de um livro denominado “Pequena
História Sobre a Igreja”, tomei ciência de alguns dados que me fizeram repensar
sobre o catolicismo. Como ainda não pude confirmar as informações que obtive,
comparando-as com outras fontes (passei a tarde de ontem pesquisando na web sobre isso, sem obter dados
similares consistentes... A maioria das informações relacionadas á religião são
parciais, tendenciosas e cegas), deixo aqui registrado, também, o conselho para
que o leitor não acate tais dados que aqui apresento como cem por cento
confiáveis (afinal de contas, não é por que está em algum livro que se tornará
automaticamente incontestável)... Bem, vamos a eles, de qualquer forma:
De acordo com o que li, dos vinte e sete
capítulos do Novo Testamento, apenas sete são autênticos. Ou seja, capítulos
que foram “assinados” por Mateus, Marcos, Lucas, João, Tiago, Pedro e Judas (o
irmão de Tiago, não Judas Iscariotes) foram escritos entre o ano setenta e o
ano cento e trinta d.C., e não por eles (óbvio, pelo período), mas por outros
anônimos cristãos “bem-intencionados”. Dá um total de vinte capítulos inverossímeis,
contra sete. Será possível que essa seja a verdade? Se for, de as trezentas
páginas do Novo Testamento, menos de vinte por cento delas são legítimas. Assim
como o Velho Testamento, que só fora traduzida do hebraico para o grego
trezentos anos a.C. (a pedido de Ptolomeu II), e cujos únicos livros que eu
soube serem historicamente autênticos seriam os de Josué, Isaías, Samuel (não
sei dizer se apenas um deles, ou os dois) e o Êxodo. Isso de acordo com as
“Cartas de Laquis”.
Mas, o que eu quero dizer com “legítimo”, e
quais são os capítulos “verdadeiros”? Bom, com “legítimo” eu me refiro às
cartas que foram escritas a punho (ou ditadas) pela própria pessoa que
supostamente “assina” o documento. O que, de acordo com os tais dados, nos
revela uma verdade surpreendente: Apenas as Epístolas escritas por São Paulo
(ou “Paulo de Tarso”) são historicamente autênticas. O restante é literalmente
apócrifo.
“Teríamos
sentido com muito mais dor esse ato da falsificação da história, se milênios de
interpretação eclesiástica da história não nos tivessem tornado quase apáticos
a respeito das exigências de integridade dos historiadores...”, dizia-nos
Nietzsche, “confesso que li poucos livros
que apresentem tantas dificuldades quanto os evangelhos.”
Mas - por mais paradoxal que isso pareça -
a partir do momento em que eu soube de estas informações, minha fé pelo
cristianismo se renovou. Simples: apesar de estar ciente de que quase tudo foi
montado sabe-se lá por quem (creio que o Vaticano sabe quem foram eles...), ao
mesmo tempo eu finalmente pude saber que pelo menos uma parte do “Sagrado
Livro” foi escrito por alguém que conviveu lado-a-lado com Pedro, Tiago e até
mesmo com o próprio “Messias”. Digo-lhe que fiquei surpreendido ao ler as
Epístolas aos Coríntios. Chega a ser gritante a diferença estilística de esta
carta, em comparação ás outras. É muito mais humana, muito mais espontânea.
Apesar de os escritos dizerem que a Epístola aos Romanos também se trata de uma
de as cartas autênticas, Coríntios I é de longe (antropologicamente falando)
mais convincente, talvez por ter muito menos d`aquele tom profético,
missionário, dogmático e impessoal de um sermão, e tratar do amor cristão de
uma forma muito mais direcionada, ou seja, Paulo conversa com seus discípulos
(os primeiros cristãos) de uma forma comoventemente amena e íntima,
instruindo-lhes serenamente sobre condutas sociais, valores morais, etc, e
inclusive tratando-os com muito carinho, e até mesmo por seus respectivos
nomes.
Apesar de os
dados “deixarem claro” que apenas os manuscritos de Paulo tratarem-se de
documentos comprovadamente verossímeis (preciso verificar mais a fundo essa
“comprovação” arqueológica), nem todos eles o são. Pelo livro supracitado, são
os que seguem: Romanos (que eu, particularmente, suspeito que o seja),
Coríntios I e II, Tessalonicenses (apenas o primeiro, o segundo teria sido
escrito pelo menos quarenta anos depois da morte do Cristo), Gálatas (Gl),
Filemom (Fm), e um último que – por um erro de digitação, eu suponho – não
consegui descobrir qual seria, por estar assinalado apenas com a sigla “Fl”
(que não existe no Novo Testamento). Suponho que pode se tratar, ou de
Filipenses (Fp), ou de Colossenses (Cl). Sete.
Paulo (pelo seu testemunho) não só conheceu
pessoalmente a certo Jeoshua (que
curava pessoas enfermas com um simples toque e - pelo que diziam os boatos na
época – chegou mesmo a ressuscitar a certo homem chamado Lázaro), como afirma
veementemente que O viu (e falou com Ele) depois que O massacraram injustamente
e O assassinaram. Ou seja, Paulo nos dá a sua palavra que falou com O Cristo
depois que O mataram. Jeoshua morreu
e ressuscitou.
Detalhe: Paulo continuou afirmando essas
verdades mesmo depois de os judeus o terem flagelado com trinta e nove
chicotadas. Deram-lhe trinta e nove, especificamente, para não quebrarem a “Lei
de Moisés”. Espancaram-no novamente com os trinta e nove flagelos em mais
quatro ocasiões. Paulo continuou pregando. Pelos romanos, Paulo fora recebido por
três vezes com uma feroz surra de porretes. Paulo continuou pregando. Fora
apedrejado por uma multidão. Ainda assim, continuou. Como poderia esse homem
suportar tanto sofrimento e ter a coragem de continuar? Será que a sua coragem
nasceu depois de vê-Lo dependurado, e sem nada poder fazer?
Pelo testemunho da época, Jeoshua foi martelado em a cruz ás nove
horas da manhã. Ficou agonizando, dependurado, até as três horas da tarde. Um
cruel suplício de seis horas. “... Quando perco toda a minha força, então
tenho a força do Cristo em mim.” Tiago, o apóstolo e irmão de sangue de Jeoshua, foi apedrejado até a morte em o
ano 68. Mas qual seria a razão de toda essa violência? Todos sabiam que os
cristãos eram pacíficos por essência, que jamais revidariam fisicamente e,
mesmo assim, todos os massacravam impune, impiedosa e sadicamente... Para mim,
agredir violentamente a um ser que não se defende é o extremo da covardia.
“Esse santo anarquista que instigou a classe social mais pobre, os
rejeitados e os’pecadores’ (e com discursos - caso os evangelhos mereçam
crédito - que até mesmo nos dias atuais levariam um homem á prisão) era um
criminoso político; se é que criminoso político seja possível em uma sociedade
absurdamente apolítica, como o era Jerusalém. Isso levou-o à cruz: e a prova
disso é a própria inscrição na cruz.”
Friedrich Nietzsche, “Der Antichrist”
Em o final de a Primeira Guerra Mundial, em
1916, um piloto russo chamado Vladimir Roskovitsky avistou “um longo ataúde de
madeira escura” sobre o monte Ararat.
A missão científica que foi enviada ao local examinou os destroços, e concluiu
terem pertencido a “um barco muito antigo, de enormes proporções”. Um
gigantesco barco no cume de uma montanha?... Seria uma “Arca”?
Arqueólogos encontraram uma placa que –
suponho que analisada pelas radiações do Carbono 14 – data do período
aproximado da terceira década do ano cristão. A placa diz “Prefeito Pôncio
Pilatos”. De acordo com alguns arqueólogos, Pilatos morreu no ano 36. Oito anos
depois de Jeoshua.
“Durante esse tempo, as pessoas
das igrejas da Judéia não me conheciam pessoalmente. Elas somente tinham ouvido
o que os outros diziam sobre mim: ‘Aquele que antes nos perseguia está
anunciando agora a fé que no passado tentava destruir!’ E louvavam a Deus por
minha causa.”
Paulo de Tarso, Gl - 1: 22-24.
Quem quiser se aprofundar em
os detalhes arqueológicos sobre a bíblia deverá procurar os escritos de um
amigo do arqueólogo Prof. Garstang, chamado Sir Charles Marston, além de
reportagens de Jean Carmignac, a obra de John Montgomery, pesquisas de Leonard
Woolley e Stephen Langdon, e os estudos de John Allegro (para mim, indignos de
fé pelos excessos e romantizações). Muitas das estimativas de as datas
aproximadas devem-se aos escaravelhos reais egípcios (os sinetes de Kephri) que
eram freqüentemente encontrados em as escavações. De grande importância, eu
também sugiro estudos sobre as “Cartas de Laquis”,
e também sobre os “Manuscritos das Onze Grutas de Qumrân” (a ruína dos vigilantes ao Luar...). Neles foram
encontrados manuscritos em grego dos livros de Isaías, Samuel e Êxodo. Para
quem quiser fazer pesquisas por si mesmo, comece comparando o “Hino a Aton” da
XIIX Dinastia egípcia com o Salmo 104, e a “Instrução de Amen-em-Opet” do
Império Novo egípcio com o Livro dos Provérbios.
E um último conselho: Muita
cautela com as informações que se encontram na web. A “International
Network” (ou “World Wide Web”) é
uma faca de dois gumes, ou gotas de verdade em meio a um oceano de mentiras. Se
expus estas informações em meu livro é porque julguei de interesse - para mim,
para o leitor cristão, e quem mais estiver interessado - pelo menos o “abordar”
do assunto. Se estas informações estiverem erradas, peço-lhes perdão
antecipadamente, e afirmo-lhes que a minha intenção é meramente a de principiar
algo, que poderá ser futuramente continuado – e (porque não?) consertado - por
outros. Aliás, eu mesmo farei as devidas correções sobre eventuais informações
erradas nas próximas edições. Errare,
humanu est.
Oh, sim, um último detalhe. Dois fatores são essenciais para
compreendermos a dificuldade de uma comprovação histórica cientificamente
incontestável: Primeiro, a probabilidade mínima de papiros e demais manuscritos
de couro ou papel - e demais substâncias frágeis - manterem-se em bom estado
(ou ao menos legíveis) depois de tanto tempo enfrentando centenas de fenômenos
naturais (vicissitudes como enchentes, tempestades, terremotos, etc...), pragas
como traças, baratas e ratos (cuja voracidade cruel com o papel eu mesmo
presenciei em minha própria biblioteca, desafortunadamente), incêndios, guerras
ou até mesmo – no melhor de os casos – o relez e impiedoso desgaste natural do
tempo. Segundo, a triste realidade do princípio de a imprensa: Antes de haver
sido inventado pelo homem a impressão em grande escala, livros eram artefatos
artesanais feitos um a um por escribas pendolistas, caríssimos e feitos apenas
sob encomendas de pessoas nobres e abastadas. Com isso, inevitavelmente
começaram a surgir as falsificações, e era muito difícil, também, impedir-se
quaisquer eventuais adulterações do texto original, intencionalmente ou por
mero indomínio do outro idioma pelo suposto “tradutor”.
Os faraós egípcios e os reis
de Pérgamo rivalizavam entre si por nutrir suas bibliotecas - na medida do
possível – com manuscritos originais, e devido justamente a isso foram
enganados com muita freqüência. Ptolomeu Filadelfo também ajudou a disseminar a
praga de a falsificação quando começou a pagar grandes fortunas pelas obras de
Aristóteles; com isso, tratados filosóficos de muitos escritores anônimos foram
assinados com o nome do ilustre filósofo. E, acima de tudo, a óbvia escassez de
exemplares (originais ou falsos) devido á dificuldade em sua confecção, que era
artesanal.
A biblioteca de Alexandria,
por exemplo, fora incendiada três vezes: primeiramente no século I a.C., e
depois nos séculos IV e VII d.C. Na primeira vez, o fogo se propagou desde a
esquadra egípcia que estava no porto que César incendiou. Depois d`essa
atrocidade, o general romano Antônio tentou redimir o fato presenteando a
rainha egípcia Cleópatra com duzentos mil rolos de papiros de Pérgamo. Em 319,
egípcios cristãos que não se interessavam por livros “pagãos” incendiaram-na
novamente. Foi novamente renovada e alcançou novamente seu esplendor. Até que
outros árabes apareceram e a transformaram novamente em uma gigantesca
fornalha. Nunca saberemos ao certo quantos tesouros do conhecimento humano
antigo se perderam em meio ás guerras, e seus subseqüentes saques e
vandalismos. Tudo isso é abominável.
*
“Os judeus são o
povo mais fatídico da história da Terra: com sua póstuma influência causaram
uma imagem tão falsa na humanidade, que até nos dias atuais o cristão sente-se
anti-semita, sem ao menos perceber que ele mesmo é o resultado final do
judaísmo.”
Friedrich Nietzsche, “Der
Antichrist”
Um comentário:
Este foi de longe o texto mais dificil que eu ja escrevi. Tive q pesquisar em dezenas de fontes diferentes e depois peneirar o total.
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