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terça-feira, 29 de maio de 2012

A LENDA SOBRE A MORTE DO BAIXISTA DOS BEATLES



     No dia  9 de Novembro de 1966, o jovem Paul McCartney saiu furioso do famoso estúdio de gravação de “Abbey Road” após uma grave discussão com os seus colegas de banda; entrou em seu potente Aston-Martin e saiu a toda velocidade pela avenida até que, ao chegar em um cruzamento, atravessou um semáforo fechado e foi brutalmente atingido por um caminhão.



     Brian Epstein, então empresário dos Beatles, foi avisado imediatamente do acidente fatal. O cadáver de Paul ficara tão desfigurado que só foi possível identificá-lo através de sua arcada dentária, e Brian de alguma forma conseguiu com que as autoridades não fizessem nenhuma referência à sua morte. No relatório policial simplesmente constou-se que um “homem jovem ainda não identificado havia falecido no acidente”.



     Os Beatles não podiam perder um dos principais membros da banda em seu maior momento de popularidade. A morte de Paul supunha um conflito de interesses, já que este era, junto a John Lennon, o membro mais popular do grupo, e o preferido entre as mulheres. E, afinal, Lennon e McCartney eram os compositores da maior parte das canções. Por isso, após superar o choque de sua morte, Epstein tomou uma decisão extrema e assustadora: procurar um substituto, um sósia que pudesse substituir Paul em sessões fotográficas e atuações. Para as gravações utilizariam diferentes cantores que tivessem seu timbre e que pudessem imitá-lo.



     Finalmente encontraram o escolhido, um jovem chamado William Campbell: cantava bem, era ótimo músico e assustadoramente parecido com Paul, mas contava com duas importantes diferenças: era destro (Paul era canhoto), e apenas sabia tocar guitarra. Mas depois de alguns meses de treinamento no manejo do baixo com a mão esquerda (e mais alguns retoques estéticos), William já estava pronto para sua primeira apresentação em público como “Paul McCartney”. E durante alguns anos o “falso Paul” enganou eficazmente a todos.



     O misterioso rumor sobre a morte e conseqüente substituição de Paul McCartney por um impostor apareceu pela primeira vez em 1969. Começou com o mórbido telefonema de uma pessoa que se identificou simplesmente como "Tom" ao famoso locutor da “WKNR-FM”, Russ Gibb. Após o estranho depoimento desse auto-denominado “Tom”, Russ narrou por rádio uma das lendas urbanas mais memoráveis de todos os tempos: a morte de Paul McCartney, e sua posterior substituição por um sósia.



    Pouco depois, um estudante da Universidade de Michigan de nome Fred Labour publicou uma curiosa análise no jornal da Universidade sobre "Abbey Road", disco lançado pelos Beatles nesse mesmo ano. Fred assegurava que na capa e nas letras das músicas do disco se encontravam numerosas pistas que delatavam a existência de uma grande conspiração para ocultar a morte de Paul.



     Começaram a realizar-se comparações visuais entre as fotografias de McCartney tomadas antes de 1966, e fotografias de anos posteriores (que pela “lenda” seriam de William Campbell). E assim surgiu a lenda. Em apenas alguns meses os fãs de todo mundo já haviam encontrado centenas de referências ocultas ao trágico acontecimento.


     E finalmente os integrantes restantes do Beatles, descontentes com o encobrimento da morte de seu parceiro, resolveram deixar pistas esparsas sobre a verdade, e então o grande segredo dos Beatles poderia ser descoberto por quem pudesse seguir as pistas deixadas pelo grupo em suas obras posteriores a 1966.



Vejamos algumas delas:


- Sgt. Pepper's Lonely Hearts Clube Band (1967)

Este álbum conta com uma das capas mais famosas da história da música e, ao mesmo tempo, cheia de simbolismo para a lenda urbana em questão. Nela aparece uma fotografia dos quatro Beatles vestidos como militares diante de uma colagem de rostos célebres, entre os quais estão Karl Marx, H.G. Wells, Albert Einstein, , Bob Dylan, Lewis Carrol, Aldous Huxley, Lewis Carrol, Carl Jung, Marilyn Monroe e Marlon Brando . À esquerda dos Beatles de “carne e osso” aparecem umas estátuas dos mesmos em cera, mais jovens (tal como eram antes da suposta morte de Paul) e vestidos com trajes escuros. Todos os personagens estão ante o que parece ser uma sepultura aberta, pelo que a simbologia da morte é explícita.Repare também que há um baixo estilisado feito com flores amarelas na parte inferior direita da capa: Nele existem apenas três cordas.

Sobre a cabeça de Paul aparece uma mão aberta. A mão aberta é o símbolo da morte nas religiões orientais. É o caso, por exemplo, de "Jain Hand", o símbolo hindu que representa a reencarnação do alma. Este fato parece ter ainda mais significado se levarmos em conta a estreita relação dos Beatles com a música e a doutrina indiana.

Além disso, "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Clube Band" foi o primeiro disco dos Beatles que incluía a letra das canções, e em duas delas há claras referências à morte de Paul.
Na faixa 6 ("She's Leaving Home") há uma estrofe que diz "Wednesday morning at five o'clock". Estes seriam o dia e a hora exata do acidente de carro. Na última faixa do disco, "A Day In The Life", a letra é ainda mais clara quando diz: "He blew his mind out in a car, he didn’t notice that the lights had changed" (Ele perdeu a cabeça num carro, não percebeu que o semáforo tinha mudado).




- Magical Mistery Tour (1967) e The White Album (1968)

Os Beatles aparecem fantasiados de animais na capa do disco. Enquanto três deles estão de branco, Paul está vestido de negro. Paul é a morsa ("Walrus", em inglês). Na canção "I'm The Walrus" (Eu sou a morsa) é John Lennon que canta, portanto a morsa é ele. No entanto, posteriormente, na canção "Glass Onion" do álbum "The White Album", John Lennon canta "Well here's another clue for you all... The walrus is Paul" (Bem, aqui há uma última pista para todos vocês... A morsa é Paul). Além do quê, ao final de "I'm The Walrus" pode escutar-se uma voz que diz "Bury me, bury me, bury my body... Oh, finally death" (Enterra-me, enterra-me, enterre meu corpo... Oh, finalmente a  morte).




- Yellow Submarine (1969)

O submarino que dá nome ao disco aparece na parte inferior da imagem. A letra da canção que dá título ao disco: "Sky of blue, sea of green in our yellow submarine" (Céu azul, mar verde em nosso submarino amarelo). O submarino representa o ataúde de Paul, enterrado numa colina de grama verde.

Mas este não é o único símbolo: novamente volta a aparecer a mão sobre a cabeça de Paul.




- Abbey Road (1969)

     A capa do último álbum da banda também esta carregada de referências à morte de Paul. Os quatro Beatles aparecem em fila, como a encenar um cortejo fúnebre. John Lennon vai vestido de branco: é o pregador, Ringo Starr está de luto, é o amigo do defunto. George Harrison, por sua vez, está vestido com um roupa informal: é o coveiro. Paul é o único dos quatro que está descalço, e caminha com os olhos fechados. Em muitas culturas orientais, os defuntos são queimados descalços. Note, também, que apenas o seu passo está descoordenado com relação aos demais, como se apenas ele não pertencesse à procissão.

     Por último, o carro negro estacionado à direita, em segundo plano, é um carro funerário.


O restante dos detalhes são bem mais sutis, mas claramente reveladores, também. Duas pistas são especialmente importantes: A primeira é que Paul está fumando com um cigarro na mão direita. Recordar que Paul McCartney era canhoto, enquanto que William Campbell (ou Billy Shears, seu suposto sustituto), era destro, ainda que tenha aprendido a tocar o baixo com a mão esquerda. O segundo detalhe é a placa do sedan branco estacionado em segundo plano: "28 IF". 28 anos seria a idade que teria Paul McCartney no lançamento do disco “se” ele ainda estivesse vivo (“if” é uma palavra do inglês que significa “se”).



Conclusão:
Pode-se notar que toda essa história é bastante excessiva em detalhes e por mais que pareça (e talvez até mesmo seja) apenas um boato, apenas uma lenda urbana, a quantidade de pistas já é o suficiente para se gerar bastante suspense.

Outrossim, os fatos que geraram todo este "hoax" também podem ser apenas uma jogada de marketing criada pelo empresário (e/ou pela própria gravadora), sem - com essa afirmação - estarmos negando o fato de eles serem bons artistas, ou não.





*

segunda-feira, 28 de maio de 2012

A VERDADEIRA HISTÓRIA SOBRE O PLANETA TERRA - PARTE II: CHEGA NIBIRU


 (Nova York  - Dezembro de 2021)



- Muuito boa noite a todos! Eu sou William Shears...

- E eu sou  Billy Campbell.

- Nós estamos ao ar novamente - ao vivo!... -  e eu sei que todos estão muito ansiosos por saber o que esta noite bastante nevosa (e exageradamente fria, eu devo dizer...) de dezembro nos traz, não é mesmo, Bill?

- É isso, mesmo, Will.

- Nossa primeira reportagem será: “Nibiru, qual será a verdade?”, e hoje teremos aqui em nossos estúdios algumas participações muito especiais e que, com certeza, irão estarrecer aos nossos queridos telespectadores, não é verdade, meu caro Bill?

- Sim, Will. Falaremos com Fred Labour, com nossa repórter Shirley West, e uma inesperada surpresa  no final deste programa...

- Surpresa? Que tipo de surpresa? Será que estamos falando de algum dos representantes dos homens lagartos, Bill?

- Bem... Como eu já disse, será uma surpresa, Will.

- Mas é claro... me desculpe!... Ahãn... Bem, estamos recebendo uma transmissão ao vivo de Liberty Island, e Shirley West tem para os nossos telespectadores novas notícias sobre o recente ataque  ao  maior símbolo de nossa nação... Senhorita Shirley, muito  boa noite...

- Obrigado, William. Estou falando ao vivo de Liberty Island, e a visão que eu tenho, agora, é absolutamente inacreditável, rapazes... Há cerca de quatro horas atrás, um ataque terrorista de origem desconhecida simplesmente destruiu a cabeça do nosso maior símbolo: A estátua da liberdade. Os escombros que agora vocês estão vendo é tudo o que restou da explosão. Algumas testemunhas estão dizendo que o ataque veio do alto, e aparentemente por objetos voadores desconhecidos...


- Perdão, Shirley, mas espere só um momento... Será que eles estão querendo dizer que se trata de um ataque empreendido pelos Draconians?

- Aparentemente, sim, senhor.

- Bom, para você que ligou o seu televisor agora, faremos um breve resumo dos acontecimentos nas últimas quarenta e oito horas: Nibiru, que todos pensávamos se tratar de uma estrela – ou asteróide – revelou-se nesta última quarta-feira como sendo uma espécie de “Nave-mãe” gigantesca de uma raça humanóide vinda de uma galáxia vizinha conhecida como Zeta-Reticuli, que fica a apenas trinta e sete anos luz do nosso planeta. Como nossos telespectadores vêem acompanhando, os tripulantes dessa espécie de “nave” são inteligentes, e aprenderam muitos dos nossos idiomas. Não possuem aparelho fonético similar ao nosso que os permitam falar, por isso apenas se comunicaram até agora conosco através de mensagens escritas mandadas de alguma forma desconhecida para a web da Terra. Aparentemente, rapidamente assimilaram nossa tecnologia computadorizada e estão estabelecendo comunicações esporádicas conosco há pelo menos quarenta e duas horas, mas as únicas coisas que nos chegaram até agora foram algumas mensagens de difícil compreensão. Aparentemente, eles ainda não possuem o completo domínio da nossa linguagem humana...

- E quais foram as mensagens deles pra nós, até agora, Will, poderia nos dizer?

- Bem, a primeira delas foi esta: “HOMEM - TECNOLOGIA - DESTRUIR” . A segunda: “PLANETA - DOENTE - LIMPAR”. A última que nós recebemos dizia “ABRIGO - SUBTERRÂNEO - ENCONTRAR”. Isto me parece ser  algum tipo de “jogo de palavras”, não é mesmo, meu caro Bill?

- Aparentemente, sim, Will... mas vamos voltar  para nossa a belíssima repórter Shirley, que parece ter algumas novidades para nós... Shirley, é com você, querida.

- Muito obrigado, Billy. Agora a pouco aconteceu algo inesperado, rapazes:  Pela primeira vez, em meses, Nibiru está saindo de sua posição a noroeste, e parece estar se aproximando... Será que eles estão...


(SSCRAAAAATCHHH)

(fim da transmissão)




2021 FOI UM ANO TERRÍVEL PARA A HISTÓRIA DA HUMANIDADE.



FOI O ANO EM QUE AS CALOTAS POLARES PRATICAMENTE DESAPARECERAM. PAÍSES DESENVOLVIDOS CONTINUAM ARREMESSANDO GIGANTESCOS BLOCOS DE GELO EM O OCEANO ATLÂNTICO PARA TENTAREM CONTROLAR O CLIMA, MAS A SITUAÇÃO ESTÁ CADA VEZ MAIS FORA DE CONTROLE.


ENTÃO SURGE NO CÉU UMA GRANDE  ESTRELA, BATIZADA PELA MÍDIA DE “NIBIRU”, QUE A CADA SEMANA PARECIA (E DE FATO ESTAVA) ESTAR MAIS PRÓXIMO DE A ÓRBITA DA TERRA. A INTERNET PASSOU A CENSURAR OS MAPAS CELESTES PARA NÃO ASSUSTAR A POPULAÇÃO, MAS JUSTAMENTE ESSA MEDIDA PREVENTIVA COLABOROU PARA AUMENTAR UM SILENCIOSO PÂNICO QUE RAPIDAMENTE SE ALASTROU. COMO UM VÍRUS.


VÁRIOS PAÍSES RESOLVERAM ESTOCAR - EM IMENSOS E INEXPUGNÁVEIS FRIGORÍFICOS CRIOGÊNICOS - MILHARES DE SEMENTES DE ALIMENTOS, E LOGO COMEÇOU A FICAR CADA VEZ MAIS COMUNS OS INVESTIMENTOS DE OS MAGNATAS TERRESTRES EM CONSTRUIREM PARA SI MESMOS (E PARA SUA ABENÇOADA FAMÍLIA) IMENSAMENTE LUXUOSOS E CONFORTÁVEIS ABRIGOS SUBTERRÂNEOS, INAUGURANDO UM NOVO “MUNDO”... UM NOVO MUNDO SUBTERRÂNEO, HABITADO APENAS PELOS MAIS PRIVILEGIADOS .


NO DIA 22 DE DEZEMBRO DE 2021 O MUNDO INTEIRO ESTREMECEU AO RECEBER A PRIMEIRA COMUNICAÇÃO VINDA DE UMA INTELIGÊNCIA NÃO-TERRESTRE DIRECIONADA Á TERRA. NESSE MESMO FATÍDICO DIA, A “ESTRELA” CONHECIDA COMO “NIBIRU” APROXIMOU-SE DE A ÓRBITA TERRESTRE, DIRECIONANDO-SE Á NOVA-YORK.



DEZ HORAS DEPOIS, A CASA BRANCA RECEBEU SUA TERCEIRA MENSAGEM, E A GRANDE ESTÁTUA SÍMBOLO DE OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA TEVE SUA CABEÇA DESTRUÍDA POR ALGUM TIPO AINDA DESCONHECIDO DE ARMA...



NA DATA PRESENTE, AS REDES DE ENERGIA ELÉTRICA DE CENTENAS DE MILHARES DE CIDADES DO MUNDO FORAM INTERROMPIDAS DE FORMA DESCONHECIDA, E O QUE COMEÇOU COM APENAS UM CONTRATEMPO, POUCO A POUCO COMEÇOU A SE TRANSFORMAR EM PÂNICO, VISTO QUE MAIS DA METADE DO MUNDO ESTÁ SEM ENERGIA ELÉTRICA HÁ PELO MENOS OITENTA E OITO HORAS, E SAQUES, ASSALTOS E TODO TIPO DE VANDALISMO JÁ COMEÇOU A FICAR FREQÜENTE EM AS GRANDES CIDADES DE TODO O GLOBO.



E AGORA, PARA COMPLETAR, CENTENAS DE OBJETOS EM FORMATO DE CUBOS RELUZENTES PULSANTES DE PELO MENOS TRINTA METROS DE COMPRIMENTO COMEÇAM A PAIRAR POR SOBRE AS CASAS, POR TODO O PLANETA TERRA...





VISITAS INESPERADAS
(Em algum lugar da Terra)

     O homem já caminhava há tanto tempo pela estrada - em meio á completa escuridão de uma noite chuvosa sem lua, ou estrelas - que começava novamente a sentir aquela já familiar e extremamente desagradável pressão sufocante em seu peito, acompanhada por uma acentuada fadiga, e uma latejante e aguda dor em seu ombro esquerdo.  “Meu coração...” pensou ele, e resolveu parar. “Pelo menos um pouco”. Dion era cardíaco. Aos trinta e oito anos desenvolveu uma arritmia que, somada à sua hipertensão, deixou-o com seu coração em frangalhos. A qualquer momento ele poderia sofrer um infarto. Ou um aneurisma. De fato, a escuridão não se devia apenas á noite sem luas ou estrelas, mas antes ao fato de que o vilarejo inteiro estava sem energia elétrica. Um violento blecaute, ocorrido à pelo menos umas trinta e cinco, ou trinta e seis horas atrás...



    Levava em suas mãos um pequeno guarda-chuva ainda fechado, por mais que uma fina garoa caísse intermitente há pelo menos vinte minutos. Aguardava o momento em que a chuva finalmente rebentasse para poder abri-lo, pois sabia que o vento forte que soprava constantemente tornaria sua caminhada ainda mais sofrida, tentando arrancá-lo de sua mão. Apesar de rala, a fina chuva já havia umedecido completamente seus cabelos, e embaçado completamente seus óculos. “Já estou perto da vila”, pensou, “de lá vou poder ver se lá na cidade há luz”. Levantou-se novamente - quando seu coração pareceu estar descansado novamente - e voltou a caminhar. Quase simultaneamente a chuva piorou, começando a cair em grandes proporções. Dion abre o guarda-chuva e começa a brigar com o vento.




    Chegando ao centro da vila, percebe que tudo está, também, ás escuras. Nenhuma loja, nenhum comércio... Nenhuma casa aberta. Entretanto, olhando mais atentamente, Dion percebe que o mercado - apesar de totalmente ás escuras - está com a porta da frente escancarada. Repara, então, que espalhados pelo asfalto estão alguns produtos menores ainda lacrados em suas embalagens, como buchas de lavar louças e sabonetes. O mercado fora recentemente saqueado. Lembra-se com temor de sua irmã e de sua tia, que ficaram sozinhas em sua casa, mas que a essa altura já deveriam estar dormindo. “Espero que sim...”, pensa consigo mesmo, com tristeza. Olha para as casas. Quase todas parecem vazias. Dion está há pelo menos uma hora caminhando, e não se encontrou com absolutamente ninguém mais andando pelas ruas. Todos deveriam estar amedrontados pela falta de energia elétrica. Até mesmo os cachorros das casas em que ele sempre passava - e que sempre ladravam para ele – estavam acovardados pela escuridão. O temporal colaborou para deixar o clima ainda mais sombrio. Dion escutava apenas o ruído de seus passos pela estrada cheia de poças d`água. Tudo estava tão quieto, parecia que na verdade o vilarejo todo estava abandonado, e que ninguém mais o habitava, tamanho o silêncio que imperava por toda a parte. Passou pelo centro da vila, e dirigiu-se para a cidade. Nada. Ninguém. Até mesmo as viaturas policiais (que antes passavam a toda a hora, e sempre com algum transgressor diferente) já não era mais vista em suas rondas a pelo menos uns dois dias. Essa lembrança o faz estremecer.



    Pega a estrada de terra em direção á cidade, com a vã esperança de conseguir alguma carona. Alguns carros passam, apressados, mas nenhum deles pára. Em vinte minutos, Dion alcança a estrada de asfalto, e detêm-se novamente para descansar um pouco... Talvez tentar utilizar algum telefone público. A chuva continua a cair, inalterada. Vê um orelhão, e decide ligar para casa. Seu cartão é recusado. Brigando com o vento, que insiste em lhe tentar arrancar o guarda-chuva, retoma sua caminhada em meio á escuridão. “Parece que só eu tive coragem (ou a idéia estúpida) de sair a pé”, pensa, “nem mesmo um marginal parece ter coragem de caminhar, assim, a essa hora, nessa maldita escuridão”, diz para si mesmo. Dion (apesar de seu coração doente) sente-se confiante, pois sabe muito bem que ele não é nenhum senhor indefeso, e porque além disso leva consigo no bolso direito de sua blusa seu inseparável companheiro, seu taser de 3.800 K.volts. “Será que eu posso usá-lo na chuva?”, pensa, curioso. Aparentemente, não seria uma boa idéia. Mais um carro passa e - apesar dos desesperados sinais feitos por Dion - ele nem ao menos ameaça parar. “Desgraçado” pensa ele, furioso, “Fica com seu maldito carro, miserável, e vá com ele pro inferno!”, desabafa em voz alta.


    Súbito, Dion é interrompido de seus pragueios por uma forte luz que brilha atrás dele, vira-se, e então a dor em seu ombro volta, junto com uma forte taquicardia gerada pelo pânico: Um gigantesco cubo de trinta metros de altura paira no céu (a mais ou menos uns sessenta metros de altura do chão) brilhando com uma forte e azul-esverdeada luz pulsante. Dion olha para seu entorno, e vê que existem mais quatro cubos iguais espalhados ao seu redor, pelo céu, e então ele senta-se de cócoras e começa a tentar controlar sua respiração, que começa a ficar ofegante. Percebe, então, que sua pressão está extremamente alta, e essa consciência o faz sentir-se ainda pior, e então náuseas lhe invadem, e sua mão recomeça a transpirar. Dion cai ao chão em meio á escuridão e á chuva, com seu coração sofrendo um infarto de miocárdio, e a última coisa que ele vê antes de desfalecer são dois dos cubos pulsantes aproximando-se de uma residência, e Dion fica escutando aos gritos de pânico de as pessoas que lá estavam, com sua dor ficando cada vez mais intensa, e as imagens e sons ficando cada vez mais distantes...

(fim do capítulo)




  NO DIA TRINTA DE DEZEMBRO DE 2021, A TRIPULAÇÃO DE NIBIRU  JÁ HAVIA DESTRUÍDO A PELO MENOS TREZENTOS E SESSENTA E SEIS ABRIGOS SUBTERRÂNEOS.
AS PRINCIPAIS FÁBRICAS CONSTRUTORAS DE AUTOMÓVEIS, E CENTENAS DE MILHARES DE POSTOS DE COMBUSTÍVEL E USINAS DE PETRÓLEO TAMBÉM FORAM DESTRUÍDOS.


  COM AS CIDADES SEM ENERGIA ELÉTRICA TORNOU-SE COMUM O SAQUE A SUPERMERCADOS E FARMÁCIAS, E TODA A POPULAÇÃO Á NOITE ISOLAVA-SE EM SUAS CASAS, COM O MEDO CONSTANTE DA INVASÃO DE BANDIDOS.


    DEPOIS DE QUASE UM MÊS DE BLECAUTE, NA ESCURIDÃO COMPLETA, AS NOITES SE CONVERTERAM EM UM MATADOURO PERFEITO PARA OS CRIMINOSOS. AS PESSOAS JÁ ESTAVAM VIVENDO EM UM CLIMA QUE MUITO POUCO JÁ SE APROXIMAVA DA ANARQUIA DA IDADE MÉDIA, COM AS AUTORIDADES MUITO POUCO FAZENDO PARA REMEDIAR A CALAMIDADE. APARENTEMENTE, ESTAVAM MUITO OCUPADOS EM TENTAREM SALVAR PELO MENOS A ELES MESMOS...



ATÉ QUE FINALMENTE ACONTECE O QUE TODOS ESPERAVAM.


A CASA BRANCA LIBERA, E UM ENORME ENXAME DE MÍSSEIS NUCLEARES COM DESENHOS DA BANDEIRA AMERICANA SÃO LANÇADOS AO MESMO TEMPO NA DIREÇÃO DE NIBIRU, CAUSANDO UMA EXPLOSÃO NUCLEAR TÃO DEVASTADORA QUE ASTERÓIDES GIGANTESCOS ATINGIRAM A TERRA, COM ALGUNS DELES DESTRUINDO CIDADES INTEIRAS. MILHARES DE MILHARES DE PESSOAS MORRERAM, MAS NIBIRU FOI (MUITO MAIS RAPIDAMENTE DO QUE SE ESPERAVA) EFICAZMENTE DIZIMADO.



APARENTEMENTE, NEM MESMO OS SERES HUMANOS TINHAM IDÉIA DO QUÃO DESTRUIDOR E HORRÍVEL TODA AQUELE ARMAMENTO NUCLEAR ERA. OS “DRACONIANOS” TAMBÉM.



O “CUBOS” QUE RESTARAM  RAPIDAMENTE BATERAM EM RETIRADA, E A CENA QUE RESTOU FOI A DE UM PLANETA SEMI-DESTRUÍDO COBERTO POR UMA NUVEM  INTERMINÁVEL DE POEIRA RADIOATIVA.



3 BILHÕES DE PESSOAS MORRERAM, MAS O PLANETA RESISTIU.



OS ATAQUES ALIENÍGENAS FORAM TODOS DIRECIONADOS A ALVOS ESPECÍFICOS:  OS ABRIGOS SUBTERRÂNEOS DOS MILIONÁRIOS MONOPOLIZADORES, FÁBRICAS DE AUTOMÓVEIS, USINAS DE ENERGIA, REFINARIAS DE PETRÓLEO E POSTOS DE COMBUSTÍVEIS.



O MUNDO FICOU REDUZIDO A ESCOMBROS, MAS ALGUNS POUCOS PAÍSES DO PLANETA ACABARAM  FICANDO A SALVO, MILAGROSAMENTE, DA POEIRA RADIOATIVA DA GUERRA NUCLEAR, E UM ADMIRÁVEL MUNDO NOVO PÔDE SER RECONSTRUÍDO, POUCO A POUCO, PELOS POUCOS SOBREVIVENTES.


UM ADMIRÁVEL MUNDO NOVO, SUJO E DESTRUÍDO, MAS APARENTEMENTE ERRADICADO DE SEUS ANTIGOS DOMINADORES: OS MAGNATAS.

FIM




EPÍLOGO:

Dion despertou e viu que estava deitado no chão, em frente ao portão de sua casa. Sua roupa ainda estava úmida e sua cabeça doía muito, mas ele achou que o mais estranho de tudo isso era ele ainda estar vivo. “Estranho... achei que tinha morrido...” disse para si mesmo, mas no fundo sentia-se bastante bem. A dor em seu peito desaparecera. Então reparou no céu. Estava horrível. Uma nuvem marrom infinita cobria todo o horizonte. Ao seu redor, tudo parecia estar em tons amarelos. No ar, uma atmosfera abafada e acre. No entanto, ele estava vivo, e aparentemente sua irmã e sua tia, também. Sentiu-se muito bem quando avistou às duas na cozinha, ao longe, tomando café e conversando baixinho, e então deu graças á Deus que ainda havia pelo que lutar. Sabia (inexplicavelmente) que seu coração estava curado (ele apenas sabia), e tateando com a mão direita em torno de seu peitoral esquerdo Dion sentiu algo duro, pequeno e cilíndrico, por baixo da pele. Era do tamanho de uma pílula. Respirou fundo, viu que a taquicardia desaparecera, e então abriu o portão de sua casa e pensou no gigantesco abraço que daria ás duas pessoas mais importantes do mundo para ele: Sua irmã e sua tia. As únicas pessoas que ele tinha. Sua única família. Nada mais no mundo, para ele, tem alguma importância.


Apenas protegê-las. 






"Um corpo celeste possivelmente tão grande como Júpiter e tão próximo da Terra que pode ser parte deste sistema solar foi encontrado na direção da constelação de Orion, por um telescópio em órbita. 
Tudo o que posso dizer é que nós não sabemos o que é isso."

Gerry Neugebauer, cientista chefe do IRAS (Infrared Astronomical Satellite)



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domingo, 13 de maio de 2012

QUAL O SIGNIFICADO DA VIDA?



    Em um dia qualquer eu saí para a varanda e encontrei um pequeno pássaro marrom muito concentrado em acumular pedacinhos de galhos secos em cima de uma das colunas de minha casa. Sua dedicação em essa indústria era tanta, que ele nem parecia notar minha presença. Ele passou a tarde inteira trazendo galho por galho, amontoando-os com tal precisão que em apenas um dia inteiro de trabalho ferrenho um aconchegante ninho já estava construído. É um sábia fêmea. Achei estranho ele ter escolhido minha casa, com tantos gatos por perto...



    Não cheguei a contar os dias, mas os três ovos chocaram em um período que me pareceu, no máximo, duas ou três semanas. Subi em uma cadeira para olhar e vi que havia três pequenos seres bastante feios, pelados e com os olhos fechados, que ao menor sinal de minha aproximação abriram seus bicos ao máximo e ficaram á espera, “pensando” se tratar de alguém que os iria alimentar. (Saí rápido de lá para não assustar a mãe deles.)



    Depois que eles nasceram, outro pássaro (um pouco maior e bem mais escuro) apareceu. Ficaram os dois por dias seguidos trazendo alternadamente alimentos para os pequenos, em uma correria intermitente que me trouxe a imagem associativa de dois marinheiros a tentar esvaziar um bote furado com baldes, tal era a correria desesperada da dupla em alimentar ao trio insaciável, que a cada chegada de um dos dois faziam uma festa histérica em pios e bicos escancarados. Parecia tarefa impossível matar a fome de qualquer um deles.



    Depois de apenas uma semana eu percebi a razão de tanta pressa da dupla em alimentá-los: o metabolismo dos três era tão, mas tão rápido, que eles cresciam a olhos vistos. Em um dia seguinte eles já estavam piando, em outro já estavam de olhos abertos, em outro já estavam com penas. Nunca vi nenhum outro bicho a crescer tão rápido. Pareciam cogumelos com penas.



    Uma tarde percebi que – dos dois adultos que o alimentavam – um deles não apareceu mais. Ficou apenas o menor, o mais bonito e de penas marrons. Foi depois de um dia em que eu vi alguns pássaros negros bem maiores – que pareciam urubus - por perto. Provavelmente ele deve ter tido uma romântica e trágica “morte em combate”, em defesa de seu pequenino lar.



    De qualquer forma, o menor continuou. Ás vezes ele trazia - em vez de minhocas - algum pequeno fruto. Trouxe uma vez um tomate cereja que quase matou um deles, introduzindo-o inteiro goela adentro de uma vez. O tomate era praticamente do tamanho da cabeça do pobrezinho.  Era evidente a falta de tato do pássaro com seus filhotes. Sempre depois de alimentá-los ele ficava olhando-os (com aqueles olhos grandes, negros e inexpressivos), sem nunca fazer nenhum tipo de afago, ou carinho. Ás vezes eu me esquecia deles e acendia a luz da varanda, á noite, e quando me lembrava novamente eu saía e olhava para eles e dava de cara com o pássaro marrom deitado no ninho ninando seus filhos e me olhando com aqueles olhos grandes. Dava para ver que ele estava bravo comigo.



    Estranho a dedicação de esses pássaros adultos em preservar essas coisinhas tão feias e frágeis. O homem chama a isso de “instinto”. E mais estranho ainda como temos a ilusão de respondermos a uma incógnita - ou de desvendarmos algum mistério - apenas definindo-o com palavras, criando uma nova expressão. “Instinto”. “Instinto” é o que faz um pequeno ser sem inteligência construir um bonito ninho com galhos secos: Eu, com toda a minha inteligência e minhas hábeis mãos, apanhei um punhado de galhos iguais em tamanho e qualidade aos dele, e o máximo que me saiu foi um amontoado torto e feio de gravetos que nenhum pássaro de respeito teria coragem de considerar um “ninho”. “Instinto” é o que faz um ser adulto caçar o alimento, para depois levá-lo e oferecê-lo incondicionalmente a uma coisinha cega e depenada, que nada fez para merecer qualquer tipo de afeto. Apenas saiu de seus ovos. De seu pequeno ventre.


“Instinto”.

Uma palavra criada pelo homem, mas que na verdade não explica absolutamente nada. 

Como a palavra “Deus”. 


Como a palavra “Alma”.  


Como a palavra “Amor”.







“Surpreender-se, admirar-se, é começar a entender.”





*